Pular para o conteúdo principal

No fundo do mar

O mar da praia da Ferradura, em Búzios, levou minha aliança de casamento. Não houve um aviso prévio, uma sensação de que algo poderia ocorrer. A aliança simplesmente escorregou e se alojou no fundo do mar.

Tentei tatear a areia em busca de um reencontro improvável, que obviamente não ocorreu. Aquele pequeno anel, que pesa apenas quatro gramas, ficará perdido para sempre por ali. Ou não.

Pensei nos movimentos da água e da areia que é arrastada de um lado para o outro. Se esses movimentos farão com que minha aliança fique para sempre enterrada por ali, no meio da praia da Ferradura, se oxidando lentamente. Se um dia será acidentalmente engolida por algum peixe, que poderá quem sabe ser pescado e essa aliança poderia aparecer misteriosamente no prato preparado por alguém.

Se esses movimentos todos farão com que um dia o anel apareça na areia e seja eventualmente encontrada por alguém. No vai e vem das ondas ela poderia ser arrastada para outra praia, para outro ilha. Junto com o lento movimento das placas tectônicas ele poderia um dia aparecer na África. Ou talvez fique para sempre enterrada, cada vez mais fundo, metros e metros abaixo da areia.

Até que algum cometa, um meteoro, uma nova era glacial ou de aquecimento global, altere o nível das marés. Um dia talvez a praia não seja mais praia, mas um enorme deserto, dominado por empresários que construirão suntuosos empreendimentos no meio do nada e no meio das escavações poderá surgir uma aliança com milhares de anos de existência e o nome de Ana Rosa.

Talvez o mundo não seja mais mundo. As futuras gerações poderão encontrar o artefato em escavações arqueológicas. Seres de outro planeta. A nova raça dominante do planeta em um futuro distópico.

Ela já pode ter sido encontrada por uma criança, que a jogou de volta no mar. Ou por um vendedor. Por um usuário de droga, que vendeu o adereço em troco de uma pedra de crack e minha aliança já pode ter sido derretida, ou será derretida, para virar correntes, uma nova aliança, barras de ouro - que valem mais do que dinheiro.

Não importa muito, nunca saberei o que acontecerá. E ninguém saberá que aquele pequeno anel dourado representava uma noite tão feliz em minha vida, um dia que jamais esquecerei. Será apenas um objeto perdido no fundo do mar, como tantos outros, tragados pela areia.

Comentários

Postagens mais visitadas

O Território Sagrado de Gilberto Gil

Gilberto Gil talvez não saiba ou, quem sabe saiba, mas não tenha plena certeza, mas o fato é que ele criou a melhor música jamais feita para abrir um show. Claro que estou falando de Palco, música lançada no álbum Luar, de 1981 e que, desde então, invariavelmente abre suas apresentações. A escolha não poderia ser diferente agora que Gil percorre o país com sua última turnê, chamada "Tempo Rei" e que neste último sabado, 7 de junho, pousou na Arena Mané Garrincha, em Brasília.  "Subo neste palco, minha alma cheira a talco, feito bumbum de bebê". São os versos que renovam os votos de Gil com sua arte e sua apresentação. Sua alma e fé na música renascem sempre que ele sobe no palco. "Fogo eterno pra afugentar o inferno pra outro lugar, fogo eterno pra  consumir o inferno fora daqui". O inferno fora do palco, que é o seu território sagrado. Território define bem o espetáculo de Gil. Uma jornada por todos os seus territórios, da Bahia ao exílio do Rio de Janeir...

Tudo se aposta

 No mundo das apostas esportivas é possível apostar em vencedores, perdedores, empatadores, em placares, em número de faltas, em número de escanteios, em número de laterais, em cartões, em expulsões, em defesas, em gols sofridos. É possível combinar mais de uma estatística para faturar números ainda maiores. É possível apostar pequenas quantidade, assim como grandes quantidades. É um mundo à margem da lei, no qual é possível inclusive manipular a realidade para obter vantagens. É isso que mostra a investigação iniciada no Ministério Público de Goiás sobre aliciamento de atletas por apostadores. Quase todo grande escândalo esportivo envolve apostas. No futebol brasileiro nós tivemos o caso da máfia das loterias nos anos 80, depois o escândalo do juiz Edilson em 2005. Só que, esses casos, envolviam placares de jogos, arranjos mais complexos. Hoje em dia, quanto tudo se aposta, a manipulação é quase inevitável. Faz tempo que a gente escuta notícias de manipulação de resultados em jogo...

2010: Considerações Finais

Minhas considerações finais sobre o meu quase finado ano de 2010. - Passei no concurso público que eu fiz. A perspectiva de ser chamado e começar a trabalhar em breve é boa. - Ter assistido a todos os jogos possíveis da Copa do Mundo. E foram todos os 56 jogos assistido (exceção feita a 10 minutos do jogo entre Austrália e Gana) e mais boa parte das reprises dos 8 jogos simultâneos. Imagino que não terei a oportunidade de fazer isso tão cedo, talvez quando eu estiver aposentado na longínqua copa de 2054. E ah, o melhor: foi uma copa muito boa. - Ter tido uma boa relação com as pessoas que conheço. Ter conhecido minha afilhada. Não ter me decepcionado com ninguém. Em compensação, o primeiro semestre do ano foi o pior semestre da minha vida. Começando por um pequeno problema pessoal e depois, pela minha saúde. Problemas com açúcar uma época, problemas intestinais, queimaduras de sol que me fizeram sentir a maior coceira da história da humanidade. E então a virose que me deixou de cama po...