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Lembranças de três títulos

A conquista da medalha de ouro no vôlei masculino brasileiro traz uma curiosidade: doze anos separam cada um deles, 1992, 2004 e 2016. Talvez por alguma dessas questões relacionadas a modernidade, a distância entre o primeiro e o segundo pareçam muito maior do que a entre o segundo ou o terceiro. Ou talvez seja o fato de que Bernardinho esteja lá esse tempo todo.

Fato é que eu assisti todos eles e tenho lembranças das finais.

Do primeiro lembro que foi provavelmente um dos primeiros jogo de vôlei que eu vi na minha vida, lembro de assistir aprendendo o que era aquele sistema de vantagens, o que eram os saques queimados, quem era o levantador. Me lembro bem mesmo é do saque final de Marcelo Negrão. Um pouco antes, se eu não me engano, o Tande tinha forçado o saque e mandado no meio da rede.

Um time que depois aprendi como histórico e que entrou para a mitologia do esporte brasileiro.

Em 2004 eu acompanhava vôlei bem, assisti praticamente todos os títulos do Brasil na Liga Mundial durante aquele ciclo. Talvez o maior time de vôlei de todos os tempos: Nalbert, Giba, Dante, Giovanni, André Nascimento, Anderson, André Heller, Rodrigão, Gustavo, Ricardinho, Maurício e Serginho.

Lembro do domingo da final, acompanhada com ansiedade porque este era um ouro certo brasileiro. A final com a Itália foi relativamente tranquila, exceção feita ao segundo set e o título veio com um toque na rede. Não cheguei a ver o pódio direito, porque naquele dia eu iria fazer o Enem. Quando saí da prova, perguntei ao meu pai sobre a Maratona e ele me contou sobre o famoso caso do Vanderlei ser agarrado por um maluco de saias.

Agora, 2016. Certamente o menos brilhante de todos os times. O que passou mais sustos. Mas que cresceu na hora certa. Com o Lipe trazendo um toque de insanidade, com Wallace certeira e a superação de vários atletas que não são exatamente brilhantes. Até por isso, talvez o mais emocionantes.

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