Pular para o conteúdo principal

Agora sim, o último ato


Um ano atrás, após a eliminação espanhola na Copa do Mundo escrevi sobre o último ato da dupla Xavi e Iniesta, na melancólica derrota por 5x1 para a seleção holandesa. Ao que tudo indicava então, Xavi abandonaria a seleção espanhola e deixaria o Barcelona para entrar na história e em algum clube do mundo árabe. Lamentei que a última atuação da dupla fosse em um vexame, um triste fim para uma dupla que conquistou tudo o que poderia, uma das maiores da história do futebol.

Mas, a história foi bondosa com Xavi e Iniesta. O camisa 6 permaneceu por mais um ano no Barcelona e ganhou uma nova oportunidade para um novo fim. Fim agora sim sacramentado, com a ida de Xavi para o Qatar e um belo fim com a conquista de uma nova tríplice coroa.

Seria difícil saber qual foi a última tabela entre os dois, já que eles pouco atuaram juntos neste último ano. Com os dois avançando os trinta anos e com as condições físicas de Xavi se deteriorando, ele virou o reserva de Iniesta. Os dois não conseguiam mais coexistir.

O último ato dos dois, na verdade, acabou sendo uma substituição. Iniesta deixou o campo, na final da Champions League, como o melhor jogador da partida para Xavi entrar e levantar a taça. Um belo fim, a história fez justiça.

***

Xavi e Iniesta já faziam parte daquele time que ganhou a segunda Champions League do Barcelona, em 2006. Xavi era então um jogador cercado de desconfianças e permaneceu aquela partida no banco, se recuperando de uma lesão no joelho. Iniesta era uma jovem promessa, sempre entrava nos segundos tempos porque o holandês Frank Rijkaard tinha uma estranha predileção pelo holandês Van Bommel. Iniesta entrou no começo do segundo tempo daquela partida e foi fundamental para a virada barcelonista, criando a jogada que resultou no gol do empate catalão.

Aquela equipe do Barcelona era marcada pela magia de Ronaldinho e sua dupla com Eto'o. Havia a nova estrela Messi, o bom francês Giuly, mas Ronaldinho era o destaque. Sua queda súbita a partir daquele jogo levou o Barcelona para duas temporadas medíocres, alternando momentos de brilho com partidas horríveis.

O ponto de virada para a carreira de Xavi e sua parceria com Iniesta foi a Eurocopa de 2008 e principalmente a partida semifinal contra a Rússia, quando Xavi foi o melhor homem em campo e depois acabou como o melhor jogador do torneio. Com Guardiola assumindo o comando dos catalães, Xavi e Iniesta se transformaram em protagonistas. Eram os pulmões, corações e cérebros da brilhante equipe azul-grená, campeã da Champions League em 2009 e 2011. Depois começou a queda física que parecia levar para um fim melancólico, salvo pela última temporada.

***

Xavi foi o melhor jogador da Euro 2008, teve uma atuação monstruosa na semifinal da Copa de 2010 e sua aparente invisibilidade conduziu o Barcelona em várias conquistas. Iniesta é um dos jogadores mais decisivos da história. Marcou o gol que talvez tenha marcado a supremacia do Barcelona, na semifinal da UCL de 2009, contra o Chelsea. Marcou um gol de título de Copa do Mundo. Foi o melhor homem em campo em uma final de Copa, em uma final de Euro e de uma final de Champions League. Difícil quem faça mais.

***

Mas essa conquista, sem dúvida, é do tridente ofensivo. Messi, Neymar e Suárez já estão na história e podem fazer ainda mais estrago nos anos que vem por aí.

Comentários

Postagens mais visitadas

O Território Sagrado de Gilberto Gil

Gilberto Gil talvez não saiba ou, quem sabe saiba, mas não tenha plena certeza, mas o fato é que ele criou a melhor música jamais feita para abrir um show. Claro que estou falando de Palco, música lançada no álbum Luar, de 1981 e que, desde então, invariavelmente abre suas apresentações. A escolha não poderia ser diferente agora que Gil percorre o país com sua última turnê, chamada "Tempo Rei" e que neste último sabado, 7 de junho, pousou na Arena Mané Garrincha, em Brasília.  "Subo neste palco, minha alma cheira a talco, feito bumbum de bebê". São os versos que renovam os votos de Gil com sua arte e sua apresentação. Sua alma e fé na música renascem sempre que ele sobe no palco. "Fogo eterno pra afugentar o inferno pra outro lugar, fogo eterno pra  consumir o inferno fora daqui". O inferno fora do palco, que é o seu território sagrado. Território define bem o espetáculo de Gil. Uma jornada por todos os seus territórios, da Bahia ao exílio do Rio de Janeir...

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Do que eu gostaria de lembrar de Paris 2024

Da arrancada da Femke Bol na final do revezamento 4x400 misto. Ela já havia feito isso em campeonato mundial, todo mundo falava que ela podia fazer novamente, mas não tinha sido tão impressionante. Não tinha sido em Jogos Olímpicos. Os EUA precisavam abrir uma grande vantagem para segurar a Femke Bol no fim, diziam. Os EUA abriram essa vantagem, mas nada seria capaz de segura a holandesa. Até metade da volta ainda parecia impossível. No meio da última curva ela deixou uma belga para trás. No começo da reta foi a inglesa. Só faltava a americana e a ultrapassagem veio coisa de 20 ou 30 metros antes de chegada ainda. Impressionante. E a arrancada da Sifan Hassam? Ela já estava na história por conseguir três medalhas em Tóquio, nos 1.500, 5 mil e 10 mil metros. Em uma delas depois de cair no chão já perto do fim da prova. Agora, a Maratona? Qual é a lógica de alguém que corre mil e quinhentos metros ainda conseguir correr mais 40,6 mil? Qual é a lógica de, depois de 41 km corridos, arranca...