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Oasis, Coldplay, Foo Fighters, White Stripes e lembranças musicais de dez anos atrás

O ano de 2005 foi um ano diferente para a minha relação com a música e imagino que para a relação de muita gente. Foi nesse ano que os sites de compartilhamento de arquivos começaram a se popularizar. Lembro do lendário Yousendit e principalmente do Rapidshare. Sites que nos livraram do Emule, Kazaa e outros programas similares que nos enchiam de MP3s e vírus, na mesma proporção.

Com uma facilidade maior para baixar discos inteiros de uma vez, incorporei um novo hábito: escutar discos em mp3 antes de eles saírem em seus formatos físicos. Isso não chegava a ser uma novidade em 2005, mas ainda era um hábito pouco comum. Pense você que até então nós íamos as lojas para comprar um disco que escutaríamos pela vez.

Exatamente por esta época 10 anos atrás, eu tive uma experiência forte com isso. Quatro bandas que eu gostava, ou acompanhava, lançaram discos em um período de quinze dias. Oasis, Coldplay, White Stripes e Foo Fighters lançaram singles, clipes e discos em um período bem próximo.

Tudo começou com o Oasis. Naquela época, Oasis já caminhava para ser uma ex-banda em atividade,  depois de dois discos medíocres. A expectativa sempre era a mesma: Noel Gallagher anunciava que este era o melhor disco da banda desde Definitely Maybe e que os bons tempos estavam de volta.

Nesta época eu participava de um fórum de discussão sobre a banda e estava ansioso pelo lançamento de Don't Believe The Truth, sexto disco de estúdio da banda.

O primeiro single, Lyla, foi lançado em uma bizarra premier mundial por uma rádio polonesa. Eu estava viajando quando a música apareceu, mas a minha impressão ao escutá-la era de uma música insossa. Essa impressão continua até hoje e acredito que a canção só foi escolhida como primeiro single por ser a única música do disco escrita por Noel e inteiramente cantada por Liam.

Depois veio o Coldplay, que naquela época estava prestes a se firmar como o maior conjunto musical do planeta, já que banda de rock é um termo muito forte para o grupo de Chris Martin. Sim, pode parecer terrível viver em um mundo que tinha essa expectativa, mas era a realidade. O Britpop havia afundado, o Radiohead mergulhado na eletrônica, o U2 havia lançado um disco horrível e já estava mais para Rolling Stones do que para novidade e os Estados Unidos não lançavam nada de novo. Restava o açúcar do Coldplay.

A música de trabalho do Coldplay de então é praticamente um resumo da carreira. Speed of Sound abusa dos falsetes de Martin, tem uma guitarra besta e começava a mostrar o flerte da banda pela eletrônica. Fez um sucesso danado.

No entanto, nada foi tão surpreendente quando a sensação que tiver ao escutar Blue Orchid, single de Get Behind Me Satan, o quinto disco dos White Stripes. Lembro que tive a nítida certeza de que alguém havia sabotado o arquivo, haviam colocado uma música qualquer como se fosse White Stripes. Acho até que apaguei o arquivo e só fui acreditar que aquela era mesmo a música quando eu vi o clipe na TV.

A guitarra estridente logo era cortada por um vocal agudo bizarro que permanecia até o fim da música. Não parecia em nada com a banda que vinha de dois discos elogiados por crítica e público.

Por fim, o Foo Fighters lançou Best of You e ai não há como negar. Era Foo Fighters como sempre, se preparando para lançar um disco duplo.

O primeiro disco a ver a luz do dia foi o do Oasis. Don't Believe the Truth não era um disco histórico, mas na época serviu como picanha para esfomeados. Era inegável que o resultado era melhor do que os últimos dois discos e lá estavam um punhado de canções boas.

Dez anos depois, Don't Believe The Truth não é brilhante, mas é um bom disco. Noel Gallagher começava a mudar o estilo das suas composições, iniciando uma linha que segue até sua hoje em sua carreira solo. Havia alguma novidade em Mucky Fingers (I'm Waiting for the man do Velvet Underground cantada por Bob Dylan. O próprio Noel admitiu isso na época), na inspiração de Kinks em The Importance of Being Idle e na percussão cubana de Part of the Queue. Turn Up the Sun é uma boa faixa de abertura e o final, com a açucarada Let There Be Love é razoável. Um bom disco.

Então veio o Coldplay e acredito que X&Y tenha cumprido a missão de levar o Coldplay para o topo da música mundial. Mas na época eu tive a impressão de que o disco era uma porcaria e hoje penso que ele é ainda pior. Chris Martin abusa dos falsetes, até torná-los insuportáveis. A guitarra do Coldplay nunca soou tão sem graça e isso é uma ofensa danada, um mérito às avessas. A letargia da banda beira o insuportável em pelo menos quatro músicas, sendo que Fix You é a pior delas. Acredito que hoje em dia, nem Chris Martin consegue ouvir esse disco super produzido.

Quando Get Behind Me Satan ganhou o meu HD veio a surpresa: Blue Orchid estava entre o que de mais convencional Jack White havia produzido para o álbum. Ele planejou uma espécie de autossabotagem e apenas três músicas possuíam guitarras e poderiam ser consideradas mais "normais": Instinct Blues, Red Rain e a já citada Blue Orchid.

Havia uma marimba em The Nurse. Muitas músicas conduzidas por baixo e piano, uma música guiada pelo banjo e uma pelo violão. Dez anos depois os ouvidos se acostumaram e é possível perceber a qualidade de muitas canções, como The Denial Twist e As Ugly As I Seem. Mas não dá para negar, que Get Behind Me Satan ocupa um lugar menor na discografia dos Stripes.


In Your Honor, o disco duplo do Foo Fighters tinha, digamos, uma novidade: o primeiro disco era elétrico e o segundo era acústico. Nesta época Dave Grohl dava seus passos para tornar o Foo Fighters numa máquina de inventar diferentes maneiras de gravar o mesmo disco.

Lembro de tentar achar qualidades para In Your Honor, mas com o tempo fica mais difícil se convencer delas. D.O.A., Resolve, No Way Back, What If I Do, Miracle são boas canções presas num mar de músicas médias e compostas no piloto automático.  Grohl começou a apelar para os gritos e para uma formula que logo ficaria batida: começo devagar, final explosivo. Chato.

***

Sempre que se fala que há muito nós não temos um grande ano musical, eu me lembro de 2005. Pode ser que não tenha sido lançado um Nevermind, um OK Computer, ou algo parecido, mas muita música boa foi lançada nesse ano.

Do que eu acompanhei na época me lembro bem de Howl, do Black Rebel Motorcycle Club. Outro disco que assustou, com aquela mistura de country, gospel, blues, folk e barulho, mas logo se transformou em um dos meus favoritos de todos os tempos.

O Doves lançou Some Cities, seu disco mais coeso e o Starsailor lançou o bom On The Outside. O Queens of the Stone Age lançou Lullabies to Paralyze, que apesar do final arrastado, tem músicas sensacionais.

Após nove anos o Weezer voltou a soar relevante e nunca mais o fez desde então. Make Believe é um ótimo disco, com Rivers Cuomo inspirado e com o som indo além da distorção por baixo das melodias alegres.

O Supergrass lançou Road to Rouen, seu disco mais diferente, que mostra um pisão brusco no freio e a preferência por canções acústicas. O grupo inglês mostrou que tinha mais por fazer além da euforia e do barulho, com algumas músicas lindas, como Sad Girl, St. Petersburg e Low C.

Para fechar o ano, o Franz Ferdinand lançou seu segundo disco: You Could Have It So Much Better With Franz Ferdinand. Eis um disco que caiu como uma bomba em meus ouvidos daqueles que parecem se transformar na coisa mais importante que você tem para fazer da vida.

Com o tempo conheci outros discos desse ano que também valem a atenção de qualquer um: Nashville, do Josh Rouse, Siberia, do Echo and the Bunnymen, De Nova dos Redwalls, Alternative to Love do Brendan Benson e The Invisible Invasion, do The Coral.

Todos bons discos que agora estão se tornando decanos.

E o mundo da música nunca mais foi o mesmo, pelo menos para mim, mas isso eu escrevo um dia em outro post.

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