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A Falta de Amor em Revolver

Os Beatles falavam apenas de amor. Romances bobos, declarações juvenis, histórias de amor. Tudo era amor. Mesmo nas melhores melodias. Yesterday era sobre amor. Mesmo nas melhores letras. Norwegian Wood era sobre um caso extra-conjugal, mas amor de alguma forma. Mesmo em temas mais amplos. In My life era sobre memórias, mas era sobre amor. The Word era sobre o amor universal, mas amor.

Desta forma, não deixa de ser surpreendente que e1966 o amor convencional desaparecesse da vida dos Beatles. Algo que já havia aparecido no single Paperback Writter/Rain, vejamos, uma música de Paul sobre um novelista e outra de John, contemplando as maravilhas psicodélicas da chuva.

E eis então, que Revolver começa com uma música irônica de protesto contra o pagamento de impostos, Taxman. Impostos? Como um tema tão difícil é transformado em uma canção pop de três segundos, em que o Taxman se dispõe a taxar as ruas de quem dirige e os assentos, se você quiser sentar. 

Na sequência temos Eleanor Rigby, uma história melancólica sobre uma mulher que recolhe o arroz do chão da igreja onde aconteceu um casamento. Sua vida miserável não tem nenhuma reviravolta e ela morre.

I'm Only Sleeping tem John Lennon novamente em suas contemplações lisérgicas, em uma ode a preguiça. O ácido ainda estaria presente em She Said, na história do Doctor Robert e em Tomorrow Never Knows. Paul também falaria sobre a maconha, Viagens em submarinos amarelos e daria bom dia ao sol, no pior momento do disco.

O amor aparece raramente, em Love You To - não dá pra classificar como convencional uma música de amor com cítaras e em duas do Paul, Here, There and Everywhere e For No One. A primeira é belíssima, apesar de convencional, enquanto que a segunda é uma música sobre o amor que se foi e sobre o dia seguinte ao fim do amor em que você gostaria de ter a sua cabeça esmagada.

O amor nunca mais voltaria aos Beatles. Mesmo com passagens eventuais, como All You Need Is Love, os discos seguintes pouco tocam no assunto. Apenas Abbey Road tem números mais românticos.

O amor só voltaria nas carreiras solos de Paul e John. Paul aliás, bem enfático neste tema. Mas aí, acho que era uma rivalidade entre os dois que queriam mostrar quem amava mas a sua mulher.

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