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Cidades que conheci

Um dia escrevo um livro

Paraty: Lugar poético, de ruazinhas estreitas de pedras desniveladas. Casas com paredes brancas e portas azuis ou amarelas. Lugar em que dói a batata da perna de tanto desnível. Come-se peixe, passeia-se tranquilamente a beira do mangue. Noites frias e montanhas com florestas. Cachorros em praias sujas. Ruas (todas iguais) que formam um labirinto. Um desafio para o seu senso de direção.

Alto Caparaó: Um lugar de nuvens incertas. Elas vão e vem. O céu completamente azul logo vira um céu carregado de nuvens e nada impede que logo ele fique estrelado. E que as nuvens se abaixem, encubram as montanhas. A cidade é uma ladeira, cheia de igrejas. Há mais igrejas que habitantes. O carro de som anuncia a candidato de José dos Santos, o Zezinho e Delvira para vice. É o 12 para mudar, informa o pior jingle político que já escutei.

Petrópolis: Eu olho pela janela e vejo a chuva a na cidade em que nasci. E sempre chove. Uma chuva silenciosa de pingos que caem tão lentamente, que parecem parados no ar. Os carros passam na noite silenciosa, levantando a água que não caiu. O asfalto, os paralelepípedos, as lápides do cemitério. A cidade está sempre submersa em pingos quase invisíveis de água. Mesmo no mais ensolarado dos dias. Uma cidade em que a lua é uma lenda.

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Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab

Fã de Esporte

A vida no começo de 2005 era um pouco estranha. Eu tinha saído do colégio e passado no vestibular para jornalismo. Mas, devido ao atraso de programação provocado pelas greves, as aulas iriam começar só no final de abril. Foram quatro meses de um pequeno vácuo existencial. Talvez fosse até bom tirar um período sabático após o fim do Ensino Médio, mas seria melhor se fosse algo programado, enfim. Nesse período, boa parte da minha vida se dedicava a acompanhar a programação da ESPN Brasil. Não que eu já não acompanhasse antes, o Linha de Passe da segunda-feira era um compromisso de agenda há algum tempo, assim como o Sportscenter no fim do dia, principalmente nos dias de rodada noturna na quarta-feira. Eram tempos que a internet ainda engatinhava e o Sportscenter era uma grande oportunidade de saber os resultados da rodada. Aquela ESPN de José Trajano moldou o caráter de uma geração de jornalistas e fãs de esporte, como eles passaram a chamar seus telespectadores. Sempre gerava ironias de