Pular para o conteúdo principal

Aqueles que encantam

Como sãopaulino meus primeiros ídolos no futebol foram jogadores do São Paulo. Raí, Zetti, Palhinha, depois França. É normal gostar daqueles que jogam no seu time e desprezar os que jogam no adversário. O impressionante é quando alguém que joga futebol te encanta, jogando num time para o qual você não torce.

A primeira vez que isso aconteceu comigo, foi com Hagi na copa de 94. Eu me impressionava vendo aquele romeno habilidoso, que colocava a bola onde queria. Era capaz de gols espetaculares, lançamentos, passes precisos. Seu pé esquerdo podia fazer qualquer coisa. Até hoje torço pela Romênia em competições internacionais, por conta de Hagi. Me decepciono com a atual geração, muito fraca. Me decepcionei vendo o futebol horrível da equipe na Euro 08.

Depois foi Bergkamp. O Holandês marcou um dos gols mais espetaculares que vi. Aos 44 do segundo tempo, nas quartas de final da copa de 98 ele recebeu um chutão do outro lado do gramado. Dominou a bola cortando o zagueiro argentino e friamente fez o gol. Bergkamp era frio, era capaz de fazer jogadas espetaculares como se não mechesse um músculo. Era sempre uma expectativa ver o Arsenal jogar, imaginando o que ele poderia fazer.

Veio então Zidane. Como odiei o francês por destruir meus sonhos de 11 anos. Era bem mais fácil imaginar que ele não jogava nada. Mas ele jogava. Que gol ele marcou na final da Champions League em 2002. E como Zidane jogou futebol em uma goleada de 4x1 sobre o Valencia, na temporada 2002/03. Zidane parecia antever as jogadas. Caminhava com a bola sobre os pés, ás vezes parecia andar sobre a bola. Sua despedida foi a atuação no jogo contra o Brasil em 2006. Ele fez o que queria fazer no jogo. Era impossível torcer contra esse cara.

Durante três anos, Ronaldinho Gaúcho foi um espetáculo. Podia se esperar a jogada sensacional a qualquer momento. Era um touro quando partia em velocidade e fazia malabarismos. No dia em que ele arrancou duas vezes com a bola para dentro do gol, no 3x0 contra o Real Madrid em 2006, não havia dúvidas - estava se vendo a história. Ninguém podia parar ele. Pena que ele parou pouco depois e agora tenta voltar a jogar, mas sem àquela magia.

No futebol atual temos bons jogadores. Rooney faz gols implacavelmente, Tévez briga pela bola como se brigasse por sua vida, Cristiano Ronaldo é extremamente habilidoso. Mas eles somem quando se fala de Messi.

A primeira vez que vi Messi jogar, ele usava a camisa 30 e aparecia como uma jovem revelação. Entrou no lugar de Giuly e tentou por duas vezes fazer um gol de cobertura. A primeira passou perto, a segunda entrou - mas ele estava impedido. Na terceira foi gol, de verdade. O garoto parecia ter futuro. Logo, Giuly virou banco dele, logo ele foi virando um dos melhores da equipe. O problema era se machucar muito.

Na temporada 2007/08 ele se firmou de vez. Conseguiu um bom desempenho em um Barcelona decadente. Na temporada seguinte foi um show de gols, assistências. E nessa temporada ele consegue ser ainda melhor do que a anterior. Cada vez que ele pega a bola a expectativa é que ele faça o gol. Não importe onde ele esteja. Quando ele pega na bola é o pânico para os adversários. E ele ainda tem 22 anos. Tem o que crescer. É um privilégio ver a história do futebol ser escrita diante de você. Saber que um dia você é que contará as histórias sobre um grande jogador. E que no futuro se perguntará "ele foi melhor que o Messi?".

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab

Fã de Esporte

A vida no começo de 2005 era um pouco estranha. Eu tinha saído do colégio e passado no vestibular para jornalismo. Mas, devido ao atraso de programação provocado pelas greves, as aulas iriam começar só no final de abril. Foram quatro meses de um pequeno vácuo existencial. Talvez fosse até bom tirar um período sabático após o fim do Ensino Médio, mas seria melhor se fosse algo programado, enfim. Nesse período, boa parte da minha vida se dedicava a acompanhar a programação da ESPN Brasil. Não que eu já não acompanhasse antes, o Linha de Passe da segunda-feira era um compromisso de agenda há algum tempo, assim como o Sportscenter no fim do dia, principalmente nos dias de rodada noturna na quarta-feira. Eram tempos que a internet ainda engatinhava e o Sportscenter era uma grande oportunidade de saber os resultados da rodada. Aquela ESPN de José Trajano moldou o caráter de uma geração de jornalistas e fãs de esporte, como eles passaram a chamar seus telespectadores. Sempre gerava ironias de