Quando surgiu em 1994, o Oasis rapidamente se transformou em um fenômeno midiático. Tanto por suas canções radiofônicas, quanto pela personalidade dos irmãos Gallagher. Eles estiveram na linha frente do Britpop, movimento que redefiniu o orgulho britânico. As letras arrogantes, o espírito descolado, tudo contribuiu para o sucesso. A discografia da banda, no entanto, não chega a ser homogênea e passa a ser analisada logo abaixo, aproveitando o retorno do grupo aos palcos brasileiros após 16 anos.
Definitely Maybe (1994)
O primeiro disco do Oasis foi durante muito tempo o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Foi precedido por três singles, sendo que dois deles são clássicos absolutos - Supersonic e Live Forever. O vocalista Liam Gallagher cantava em algum lugar entre John Lennon e Ian Brown, enquanto o som da banda bebia de quase tudo o que o Reino Unido havia produzido nos 30 anos anteriores (Beatles, T. Rex, Sex Pistols, Smiths, Stone Roses). O disco começa com Rock ‘n’ Roll Star e Liam Gallagher se lembraria da ironia que era cantar “esta noite somos estrela do rock” para uma plateia de 20 pessoas. As letras eram um convite ao hedonismo e um reforço à autoestima. Noel Gallagher projetou uma série de sensações boas que de alguma forma se transformaram em realidade. Teria ele mentalizado? A mixagem comprimida, a parede de guitarras, a releitura de clássicos (Cigarettes & Alcohol é um plágio descarado de Get it On do T. Rex, abrindo um longo tópico de discussão sobre os plágios do Oasis), Definitely Maybe é o disco que definiu a sonoridade do Britpop e a imagem da Inglaterra no meio dos anos 90.
(What's the Story) Morning Glory (1995)
O que fazer quando sua banda se transforma em um fenômeno comercial, vendendo milhares de discos e produzindo a maior histeria musical registrada desde os Beatles? Dobre a aposta. Foi isso que Noel fez para o segundo disco do Oasis. Músicas ainda mais populares, refrões ainda pegajosos. Wonderwall quebrou todas as barreiras do sucesso e tocou tanto em rádios e na MTV que criou uma legião de haters (curiosamente, Wonderwall não alcançou o topo das paradas na Inglaterra. Foi superada por um cover de Unchained Melody cantada por uma dupla fictícia de um seriado melodramático). O baterista Tony McCaroll foi demitido por incompetência após a gravação do primeiro single, Some Might Say, e Alan White assumiu as baquetas, imprimindo suas viradas características. Don’t Look Back in Anger é provavelmente o maior refrão da vida de Noel e os clássicos fazem fila: Morning Glory, Cast no Shadow, Champagne Supernova, enfim. Até as músicas mais escondidas, como She’s Electric, tem enorme potencial. Disco que colocava o Oasis no topo do mundo.
Be Here Now (1997)
O que fazer quando sua banda é o maior sucesso mundial, arrasta multidões por todo o Reino Unido, esgota ingressos em tempo recorde? Triplicar a aposta. Esse foi o plano de Noel Gallagher para o terceiro disco do Oasis, só que dessa vez eles acabaram quebrando a cara. Be Here Now tem músicas com grande apelo pop, mas é um exagero completo. Mais camadas de guitarra, vocais mais anasalados, refrões ainda mais grudentos. Acabou batendo o recorde de vendas de um disco em sua semana de estreia, mas logo foi possível perceber que os tempos estavam mudando. O Radiohead matava o Britpop com Ok Computer, o espírito de Cool Britania havia acabado e o excesso de exposição acabou sendo prejudicial. O disco até envelheceu relativamente bem, sendo hoje mais bem aceito do que foi pela crítica na época. Stand By Me caminha ao lado dos clássicos do disco anterior, mas é difícil defender tantas músicas com mais de seis minutos de duração, solos intermináveis, refrões repetidos ad eternum. De certa forma, Be Here Now é o disco que precede a ressaca e, nesse caso, a ressaca foi de cocaína.
The Masterplan (1998)
Não é um disco de inéditas e não entra para o ranking final por conta disso. É uma coletânea de lados-b que o grupo lançou entre 1994 e 1997, mas é peça fundamental para entender a banda. Noel Gallagher declarou anos depois que gravar o Be Here Now foi um erro, que ele deveria ter apenas lançado The Masterplan e sumido do mapa por algum tempo. Faz sentido, já que aqui estão algumas das melhores músicas escritas por Noel. A faixa-título, Fade Away, Listen Up, It’s Good to be Free, Half the World Away, todas músicas que qualquer um gostaria de ter escrito, mas que foram lançadas de forma meio esquecida. Em vez da arrogância e autodeterminação dos discos anteriores, aqui as letras falavam de saudade, nostalgia e fragilidades. Grande momento.
Standing on the Shoulders of Giants (2000)
As tais férias vieram após o Be Here Now. Assim como a ressaca. O grupo sumiu no segundo semestre de 1998 e quando voltou o baixista Paul Guigsy e o guitarrista Paul Bonehead saíram do Oasis (ou foram demitidos, vai saber). Eles seriam substituídos, respectivamente, por Andy Bell e Gem Archer, mas os novos membros não chegaram a participar da gravação do quarto disco. Standing on the Shoulder of Giants é um mergulho ao fundo do poço. O clima tenta emular a psicodelia dos anos 60, com produção exagerada, excesso de coros e teclados. Liam contribuiu com sua primeira música, a trágica Little James. Noel ainda manteve o nível em canções como Go Let it Out e Roll It Over. Gas Panic!, I Can See a Liar e Where Did it All Go Wrong tem seu charme, mas não dá para defender Put Yer Money Where Yer Mouth Is. O disco vendeu incrivelmente pouco (um terço do antecessor) e o mito da banda permaneceu mais por conta da caótica turnê seguinte, com Noel deixando a banda temporariamente e o anúncio do fim sempre próximo.
Heathen Chemistry (2002)
Quem disse que as coisas não poderiam piorar? Heathen Chemistry é, sem muita discussão, o pior disco do Oasis. A entrada de Andy Bell e Gem Archer podem ter melhorado a qualidade ao vivo, mas em estúdio pouca coisa mudou. A voz de Liam nunca foi tão ruim em gravação. A inspiração estava em baixa, com músicas como Hung in a Bad Place, She is Love, Born on a Different Cloud e Better Man estando entre as piores que o grupo já registrou. Alan White enfrentava problemas no pulso, o que levou a um abuso de samples. A produção também não ajudou (Little by Little é o maior exemplo: perfeita ao vivo, pálida no disco). O lado A até que se salva, mas o fim do disco é uma tragédia. Stop Crying Your Heart Out foi um clássico tardio, mas vejam o sinal dos tempos: o primeiro single, The Hindu Times, é um plágio descarado de Same Size Feet do Stereophonics. Se antes eles plagiaram T. Rex e Stevie Wonder, agora copiavam o grupo do Kelly Jones. Triste.
Don't Believe The Truth (2005)
O sexto grupo do disco é um retorno à sobriedade. É um trabalho com poucas músicas que se destacam, mas a boa produção de Dave Sardy garantiu um som coeso e agradável, como há muito não acontecia. A voz de Liam está melhor e Zak Starkey (sim, o filho do Ringo), trouxe novo vigor ao assumir as baterias. Andy Bell ofereceu uma grande abertura com Turn up The Sun, as músicas do Liam melhoraram e ainda há outro grande clássico: The Importance of Beind Idle. Se não chega a ser um grande disco, a sensação é de que o grupo havia voltado a funcionar e Don’t Believe the Truth é um trabalho que você escuta do início ao fim sem reclamar.
Dig Out Your Soul (2008)
O último disco do Oasis foi novamente produzido por Dave Sardy. O debate se ele é melhor ou não que Don’t Believe the Truth é inconclusivo (uma discussão semelhante à daquele vestido azul e preto que algumas pessoas enxergavam como branco e dourado). A sonoridade está mais encorpada, Noel conseguiu fazer o seu disco estilo psicodelia britânica dos anos 60, mas o fôlego termina no fim. Bag It Up, The Turning, Waiting for the Rapture (essa plagiada de Five to One do Doors) abrem o disco muito bem. The Shock of the Lightning foi um primeiro single enérgico e I’m Outta Time é Liam tentando escrever uma nova Jealous Guy. Depois o disco fica mais opaco e, para mim, hoje é mais chato de ser escutado do que o anterior. Mesmo assim fez bonito na época.
No entanto, a banda nunca mais voltaria ao estúdio. Após anos de boatos, brigas públicas e ameaças, o grupo terminou em 2008 após uma briga envolvendo arremesso de frutas e uma guitarra quebrada. Os irmãos Gallagher permaneceram afastados por 15 anos - período em que mantiveram uma inimizade pública. Anunciaram o retorno em 2024, motivados por um grande acordo financeiro e vem colhendo uma recepção inacreditável do público. Neste fim de semana eles iniciam sua quinta passagem pelo Brasil, realizando seus maiores shows individuais no estádio do Morumbi(s). (Sim, o Rock in Rio não conta, era festival).
Para terminar, a lista dos 7 discos, do pior até o melhor:
7) Heathen Chemistry
6) Standing on the Shoulders of Giants
5) Dig Out Your Soul
4) Be Here Now
3) Don’t Believe the Truth
2) (What’s the Story) Morning Glory
1) Definitely Maybe.

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