Pular para o conteúdo principal

Vivendo na Pós-Verdade

Tenho que dizer que estou obcecado com o termo "pós-verdade". Desde que a pós-verdade se popularizou, ao ser escolhida palavra do ano pelo dicionário Oxford, não consigo parar de pensar sobre suas implicações para o mundo atual e para a minha profissão.

Colabora para isso que Donald Trump seja o presidente dos Estados Unidos, reforçando toda a força e significância da palavra. Pode parecer em um primeiro momento que seja um daqueles termos empostados que não significam nada, mas tenho cada vez mais tempo que vivemos na era da pós-verdade.

"Um adjetivo que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. Esta seria a pós-verdade. Quando a versão é mais importante do que o fato.

Estão aí as redes sociais, o Facebook e o Whatsapp, com as pessoas compartilhando centenas de informações falsas, baseadas na falha crença de "se está na internet, deve ser verdade". Sites e mais sites especializados em inventar informações, mas informações que mantém uma certa conexão com a realidade, que não seriam estranhas se fossem verdade, mas que realmente não são verdade. E essas informações viralizam e acabam se transformando em verdade.

Justamente por manter essa conexão distante com a realidade é que essas notícias falsas são tão perigosas. Elas estão aí para afirmar as nossas suspeitas, as nossas intuições, para confirmar que nós realmente estávamos certos em nossas convicções. Uma confirmação baseada na inverdade, uma ratificação inexistente, mas verossímil. Uma bomba para extremismos, ignorância e intolerância.

Penso na minha profissão, no jornalismo neste cenário. Claro que não podemos negar que a profissão tem uma boa quantidade de pessoas desprezíveis, principalmente entre aqueles que são donos de veículos de comunicação. Mas não acredito que a proporção seja diferente da quantidade de pessoas desprezíveis em tantas outras profissões, principalmente entre aquelas que são empregadoras.

Mas é fato já que o jornalismo de verdade está perdendo a disputa da disseminação para o jornalismo pós-verdade. Afinal, os fatos muitas vezes podem nos desagradar e ir contra o que pensamos. Mas, lá na pós-verdade poderemos achar uma quantidade de palavras para massagear o nosso egocentrismo.

Tenho total convicção que as próximas eleições brasileiras repetirão o fenômeno norte-americano e os candidatos que dominarem melhor a rede de disseminação de notícias pós-verídicas terá uma grande chance de se sagrar vencedor.

Os boatos sempre existiram, os panfletos apócrifos, os jornais comprados para reproduzir mentiras. Mas o poder de alcance nunca foi igual ao que vemos agora em um Facebook da vida. Isso tudo me preocupa, isso tudo ocupa boa parte dos meus pensamentos recentes.

Comentários

Postagens mais visitadas

Fuso Horário

Ela me perguntou sobre o fuso horário, se era diferente do local onde estávamos. Sim, informei que Mato Grosso está uma hora atrasado em relação ao Ceará. Perguntou se sentíamos alguma diferença, tive que falar que não. A pergunta sobre o fuso horário foi o suficiente para uma pequeno comentário sobre como lá no Ceará o sol se põe cedo e nasce cedo. Isso é exatamente ao contrário do Paraná, de onde ela veio, onde o sol se põe muito tarde. Ela demorou para se acostumar com isso. Não é nem seis da tarde e o sol se pôs. Não é nem seis da manhã e o sol já está gritando no topo do céu. Pensei por um instante que esse era um assunto de interesse dela. Que ela estava ali guiando turistas até um restaurante não facilmente acessível em Canoa Quebrada, mas o que ela gosta mesmo é do céu. Do movimento dos corpos, da translação e etc. Talvez ela pudesse pesquisar sobre o assunto, se tivesse o incentivo, ou se tivesse a oportunidade. Não sei. Talvez ela seja feliz na sua função atual. Talvez tenha ...

Os 50 maiores artilheiros do São Paulo no Século

(Até o dia 4 de fevereiro de 2024) 1) Luís Fabiano 212 gols 2) Rogério Ceni 112 gols 3) Luciano 87 gols 4) Jonathan Calleri 76 gols 5) França 69 gols 6) Dagoberto 61 gols 7) Borges 54 gols 8) Hernanes 53 gols 8) Lucas Moura 53 gols 10) Kaká 51 gols 11) Alexandre Pato 49 gols 12) Washington 45 gols 13) Reinaldo (Atacante 2001-2002) 41 gols 13) Grafite 41 gols 15) Danilo 39 gols 15) Diego Tardelli 39 gols 17) Souza 35 gols 18) Pablo 32 gols 18) Reinaldo (o lateral esquerdo) 32 gols 20) Hugo 30 gols 21) Brenner 27 gols 22) Gustavo Nery 26 gols 23) Alan Kardec 25 gols 24) Paulo Henrique Ganso 24 gols 25) Aloísio Chulapa 23 gols 26) Júlio Baptista 22 gols 26) Jorge Wagner 22 gols 26) Michel Bastos 22 gols 26) Aloísio Boi Bandido 21 gols 30) Cicinho 21 gols 30) Jadson 21 gols 30) Osvaldo 21 gols 33) Fábio Simplício 20 gols 33) Cícero 20 gols 33) Christian Cueva 20 gols 33) Robert Arboleda 20 gols 37) Thiago Ribeiro 19 gols 38) Amoroso 18 gols 39) Adriano Imperador 17 gols 39) Fernandinho 17 ...

Uma legítima alegria do basquete brasileiro

O dia era 30 de Agosto de 2002. Já tinha visto algo sobre o Campeonato Mundial de Basquete realizado em Indianápolis - terra da lendária vitória na final do Pan de 1987. Milton Leite e Wlamir Marques estavam lá transmitindo os jogos pela ESPN e naquela tarde eu assisti os últimos minutos de Brasil x Turquia. Bem, nada como ser apresentado as loucuras do basquete de forma tão explícita assim. Aquele minuto final interminável, uma cesta de três do Marcelinho Machado no último segundo para garantir a vitória, o Milton Leite perdendo a voz na narração. Foi o início da minha jornada de sofrimento com a seleção brasileira de basquete masculino. Nesses 22 anos foram algumas poucas alegrias. Quase todas elas acompanhadas por uma enorme frustração dias depois. Vejamos os mundiais: Após essa vitória contra a Turquia o Brasil venceu Porto Rico e Angola para se garantir nas quartas-de-final. Depois, perdeu todos os jogos e terminou em oitavo lugar. Em 2006 não houve felicidade nenhuma, apenas um t...