Pular para o conteúdo principal

Dylan (quantas vezes?)

De repente começo a escutar Oh Mercy, disco que Bob Dylan lançou em 1989 e que os críticos tratam como o renascimento de sua carreira. E acredito que seja mesmo, os discos lançados depois de Infidels de 1983, são pavorosos.

Começa a tocar a faixa 7, What Good Am I?, e não dá para não reparar em sua beleza. A faixa é lenta, chega a ser arrastada, mas enquanto ela toca o mundo se silencia. É fantástico. Existem músicas que se completam pelo barulho e canções que preenchidas pelo silêncio.

Time Out Of Mind de 1997, o disco da sua ressurreição, é um disco inteiro assim. As canções são formadas por bases repetitivas de órgão, baixo e bateria, riffs que se repetem sob a voz gasta de Dylan. A música valoriza o silêncio e sua voz parece até sobrenatural. Cada verso soa como uma verdade absoluta.

Sempre é possível se surpreender com Bob Dylan. Sua discografia extensa, da qual não vale a pena contar a quantidade de discos, sempre reserva uma surpresa boa. Do começo folk, a trilogia rock de 65/66, os discos do meio dos anos 70, a carreira retomada a partir dos anos 90. Mesmo nos discos mais fracos, sempre dá para achar uma música, uma canção, daquelas que qualquer um gostaria de ter escrito.

Seja silenciosa ou ensurdecedora. Ou as duas coisas.

Comentários

Postagens mais visitadas

O Território Sagrado de Gilberto Gil

Gilberto Gil talvez não saiba ou, quem sabe saiba, mas não tenha plena certeza, mas o fato é que ele criou a melhor música jamais feita para abrir um show. Claro que estou falando de Palco, música lançada no álbum Luar, de 1981 e que, desde então, invariavelmente abre suas apresentações. A escolha não poderia ser diferente agora que Gil percorre o país com sua última turnê, chamada "Tempo Rei" e que neste último sabado, 7 de junho, pousou na Arena Mané Garrincha, em Brasília.  "Subo neste palco, minha alma cheira a talco, feito bumbum de bebê". São os versos que renovam os votos de Gil com sua arte e sua apresentação. Sua alma e fé na música renascem sempre que ele sobe no palco. "Fogo eterno pra afugentar o inferno pra outro lugar, fogo eterno pra  consumir o inferno fora daqui". O inferno fora do palco, que é o seu território sagrado. Território define bem o espetáculo de Gil. Uma jornada por todos os seus territórios, da Bahia ao exílio do Rio de Janeir...

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Pepe Mujica

 O ex-presidente uruguaio Pepe Mujica foi uma das maiores figuras dos tempos que vivemos. Apareceu para o mundo ao assumir a presidência do seu país, quando já tinha 75 anos. Ex-guerrilheiro de esquerda, que ficou preso por quase 13 anos durante a ditadura militar uruguaia, demonstrava o tempo todo uma serenidade que parece incompatível com a guerrilha. Talvez pela idade, não sei, mas Mujica se transformou em um guerrilheiro das palavras. Não governou com vingança contra aqueles que mal o fizeram, mas com ponderação. Era alguém capaz de tomar medidas que talvez não gostasse, por entender que era o que deveria ter sido feito. Era alguém pragmático nas miudezas, mas radical em seus princípios. Esta talvez seja sua principal virtude, em um tempo no qual a esquerda, pelo menos a brasileira, é pragmática nos princípios, mas radical nas pequenas coisas.  Um velhinho meio desajeitado, falava com aquele ar grave e cheio de sabedoria, como se fosse um velho personagem de um livro de Ga...