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Dylan (quantas vezes?)

De repente começo a escutar Oh Mercy, disco que Bob Dylan lançou em 1989 e que os críticos tratam como o renascimento de sua carreira. E acredito que seja mesmo, os discos lançados depois de Infidels de 1983, são pavorosos.

Começa a tocar a faixa 7, What Good Am I?, e não dá para não reparar em sua beleza. A faixa é lenta, chega a ser arrastada, mas enquanto ela toca o mundo se silencia. É fantástico. Existem músicas que se completam pelo barulho e canções que preenchidas pelo silêncio.

Time Out Of Mind de 1997, o disco da sua ressurreição, é um disco inteiro assim. As canções são formadas por bases repetitivas de órgão, baixo e bateria, riffs que se repetem sob a voz gasta de Dylan. A música valoriza o silêncio e sua voz parece até sobrenatural. Cada verso soa como uma verdade absoluta.

Sempre é possível se surpreender com Bob Dylan. Sua discografia extensa, da qual não vale a pena contar a quantidade de discos, sempre reserva uma surpresa boa. Do começo folk, a trilogia rock de 65/66, os discos do meio dos anos 70, a carreira retomada a partir dos anos 90. Mesmo nos discos mais fracos, sempre dá para achar uma música, uma canção, daquelas que qualquer um gostaria de ter escrito.

Seja silenciosa ou ensurdecedora. Ou as duas coisas.

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