Pular para o conteúdo principal

Por onde andará o Walfredo?

No competitivo e violento ambiente da pré-escola, o Walfredo se destacava. Ele era um pequeno torturador psicopata que espalhava o terror entre seus coleguinhas. Walfredo mostrava o pinto para os outros, rolava na grama, ficava gritando, batia nas crianças e tinha um umbigo esquisito. Tenho certeza que essa era a razão para toda a maldade. Olhando agora, em retrospectiva, parece claro que Walfredo era a encarnação do mal, um garoto possuído pelo demônio. Mas, de qualquer forma, acho que não deveria ser legal saber disso aos seis anos, mesmo.

Walfredo foi expulso do colégio antes do final daquele fatídico ano de 1993. A gota d'água, acredito eu, foi o dia em que ele aproveitou o momento em que uma das crianças bebia água no bebedouro e empurrou a nuca do garoto, fazendo com que o pobre coitado quase engolisse o bico do bebedouro, batesse os dentes e tudo mais. Terrível. Aquilo ali deve ter feito com que a diretoria percebesse que Walfredo era incapaz de conviver em sociedade.

Se eu não sei por onde andam os meus amigos da primeira série, o que direi sobre o Walfredo. Depois do dia em que ele foi expulso, nunca mais o vi em lugar nenhum. De vez em quando me lembro da sua existência, principalmente depois que vejo matérias sobre psicopatas infantis. Imagino que Walfredo deve ter esquartejado seu primeiro gato um pouco depois de sair do colégio, violentou sexualmente pequenos animais e, com sorte, nunca matou ninguém.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab

Fã de Esporte

A vida no começo de 2005 era um pouco estranha. Eu tinha saído do colégio e passado no vestibular para jornalismo. Mas, devido ao atraso de programação provocado pelas greves, as aulas iriam começar só no final de abril. Foram quatro meses de um pequeno vácuo existencial. Talvez fosse até bom tirar um período sabático após o fim do Ensino Médio, mas seria melhor se fosse algo programado, enfim. Nesse período, boa parte da minha vida se dedicava a acompanhar a programação da ESPN Brasil. Não que eu já não acompanhasse antes, o Linha de Passe da segunda-feira era um compromisso de agenda há algum tempo, assim como o Sportscenter no fim do dia, principalmente nos dias de rodada noturna na quarta-feira. Eram tempos que a internet ainda engatinhava e o Sportscenter era uma grande oportunidade de saber os resultados da rodada. Aquela ESPN de José Trajano moldou o caráter de uma geração de jornalistas e fãs de esporte, como eles passaram a chamar seus telespectadores. Sempre gerava ironias de