Pular para o conteúdo principal

Poor devil


No começo deste ano, a história de um jovem de 15 anos ganhou destaque na imprensa nacional. O estudante T.D.S. foi aprovado via Enem para cursar medicina na Universidade Federal do Ceará ainda estudando o 1º ano do Ensino Médio. Ele obteve permissão do Conselho de Educação local para entrar na faculdade, antes de completar o restante do Ensino Médio.

Os jornais celebraram o feito, realmente um feito, uma vez que tantos estudantes demoram anos até conseguir ingressar em um curso de medicina de universidade pública. Sua rotina de estudos foi mostrada, T. foi mostrado como um gênio, um exemplo a ser seguido. Quando sua permissão para entrar na faculdade foi concedida, o estudante disse que pulou de alegria. A psicóloga de seu colégio alertou que a mudança poderia gerar um prejuízo a sua vida social, mas ele comemorou que irá ganhar dois anos em sua vida profissional.

Eu apenas lamento.

Lamento que T.D.S. irá queimar uma das principais etapas da sua vida, que não irá viver todas as experiências que só podemos viver enquanto estamos no Ensino Médio. Este período da vida tão cheio de novidades, de transições, com as primeiras amizades verdadeiras, as primeiras festas, aquela pequena sensação de liberdade. Período cheio de incertezas também, mas incertezas que você vive junto com outras pessoas que também estão passando por isso.

Lamento que na faculdade ele vá encontrar pessoas que já passaram por todas essas etapas e que já estarão em outra fase de suas vidas. Que o jovem talvez não irá viver plenamente a vida universitária, porque não tem idade, porque ele talvez fique deslocado, sem assunto com as outras pessoas.

Pode ser que ele seja o melhor aluno de sua turma e que talvez se torne um brilhante profissional, quem sabe uma referência em sua área. Mas não sei se ele vai viver a vida plenamente. E pior, que ele tenha consciência disso, mas que releve todas essas perdas em nome de dois anos em sua vida profissional. O sucesso profissional não pode ter tanta importância assim, na vida de um adolescente de 15 anos.

Lamento por T.D.S., que irá encarar a vida aos 15 anos. Ele não tem nem idade para ter mais do que suas iniciais expostas nos jornais.

Comentários

Postagens mais visitadas

Paz

Não há como ser contra a paz. Mas seus pedidos costumam a ser vagos. Coisa de ator da globo em vinheta de final do ano. Paz é algo intangível, variável. Mas, repito: não há como ser contra a paz. O atentado do Realengo traz novamente, pedidos de paz. Em um caso que nada tem haver com a paz. O massacre não é uma cena do caos urbano da cidade, da violência desenfreada. A paz que faltou, foi na mente perturbada de Wellington. Pessoas tendem a pedir paz em casos isolados. Pediu-se paz quando a menina Nardoni foi jogada pela janela. Quando Eloá foi baleada. Em todas essas situações, não há influência nenhuma de uma cultura das armas ou o que quer que se diga. Um é um caso passional, o outro um problema familiar. A paz deve ser pedida, por mais difícil de definir que ela seja, a cada assalto, cada latrocínio, seqüestro. Situações criminosas que se repetem com freqüência. A Paz nada tem haver quando uma mente perturbada pega em armas para tentar resolver problemas pessoais.

Melhores tenistas sub-18 desde 2000

O título do brasileiro João Fonseca no ATP Next Gen disputado na última semana cria expectativas de que talvez estejamos diante de um fenômeno. De fato, João tem números muito bons para um rapaz de 18 anos e, mais do que o título, termina 2024 como o melhor tenista sub-18 do ranking da ATP. Sim, no torneio disputado na Arábia Saudita ele era o caçula da lista. Para tentar entender o que isso pode representar, fiz uma busca sobre os melhores tenistas de até 18 anos no último ranking da ATP em cada ano do século atual (O ano 2000 entra de lambuja). Vamos a lista. 2000: Guillermo Coria era número 88. O argentino chegou a ser número 3 do mundo e conquistou 9 títulos na carreira. Foi finalista de Roland Garros em 2004 e venceu dois Masters 1000. 2001: Carlos Cuadrado era número 280. O espanhol chegou no máximo ao número 222 do ranking, com apenas 8 jogos entre os profissionais. 2002: Mario Ancic era número 89. O croata chegou a ser número 7 do mundo. Ganhou três títulos na carreira, todos e...

O Território Sagrado de Gilberto Gil

Gilberto Gil talvez não saiba ou, quem sabe saiba, mas não tenha plena certeza, mas o fato é que ele criou a melhor música jamais feita para abrir um show. Claro que estou falando de Palco, música lançada no álbum Luar, de 1981 e que, desde então, invariavelmente abre suas apresentações. A escolha não poderia ser diferente agora que Gil percorre o país com sua última turnê, chamada "Tempo Rei" e que neste último sabado, 7 de junho, pousou na Arena Mané Garrincha, em Brasília.  "Subo neste palco, minha alma cheira a talco, feito bumbum de bebê". São os versos que renovam os votos de Gil com sua arte e sua apresentação. Sua alma e fé na música renascem sempre que ele sobe no palco. "Fogo eterno pra afugentar o inferno pra outro lugar, fogo eterno pra  consumir o inferno fora daqui". O inferno fora do palco, que é o seu território sagrado. Território define bem o espetáculo de Gil. Uma jornada por todos os seus territórios, da Bahia ao exílio do Rio de Janeir...