Pular para o conteúdo principal

Lembranças do voluntariado

Cuba e Canadá faziam um jogo equilibrado e de pontuação baixa. Faltando 26 segundos para o final Cuba errou o arremesso e a bola estava com o Canadá. O jogo empatado em 45 x 45. As canadenses teriam, muito possivelmente, a última bola do jogo. A vitória valia a última vaga para o Mundial do ano que vem. O Canadá trabalha a bola sem encontrar espaço. No seu último segundo de ataque a bola caí na mão da pivô Aubry, na linha de três.

Aubry é meio desengonçada e provavelmente acerta uma bola de três pontos por ano. Ela tenta o chute e acerta. A três segundos do fim da partida. Os cubanos lamentam e o técnico pede um tempo, para tentar armar uma jogada que possibilite uma bola de três, para empatar a partida e levar o jogo para a prorrogação. Algo que é possível em três segundos, apesar de difícil. No rosto cubano o desespero.

Eu torcia pelas cubanas, ou pelos cubanos. Por conta de uma pessoa em especial. Todo dia o assistente técnico cubano, Eduardo Pardo, passava na sala de imprensa para pegar as estatísticas da partida. E aproveitava para tomar um café e fazer alguma piada.

Antes da semifinal do dia anterior contra o Brasil, além dele, o técnico Alberto Zabala também entrou pedindo “un cafezito” junto com outro assistente, o Pepe.

O jogo voltou. Sória recebeu a bola, girou e mesmo desequilibrada fez a bola de três no último segundo. Empate em 48 x 48. Os cubanos vibraram, vibraram tão intensamente que por um momento cheguei a pensar que o placar estava errado e que com aquela cesta haviam vencido a partida. Mas não, ainda havia uma prorrogação.

Talvez a tensão descarregada tenha tirado o foco das jogadoras. O Canadá passeou na prorrogação e abriu 10 pontos de vantagem, ganhando a medalha de bronze e a vaga no mundial. Cuba que era favorita ao título, terminou na distante quarta colocação.

A final entre Brasil e Argentina estava no seu começo quando Eduardo bateu a porta para pegar suas últimas estatísticas. Todos olharam para ele com cara de lamentação. Ele retribuiu com cara de que, realmente, as coisas não deram certo. A vontade era dizer algo como “não é sempre que se ganha”, mas do que adianta? Eduardo tomou um último café enquanto arrumavam todas as estatísticas para ele.

Ele tirou algumas fotos com a máquina dele, quando o técnico Zabala bateu na porta, nervoso, para que fossem embora logo. Saíram conversando sobre o que não havia dado certo, lamentando o trabalho perdido.

Comentários

Postagens mais visitadas

O Território Sagrado de Gilberto Gil

Gilberto Gil talvez não saiba ou, quem sabe saiba, mas não tenha plena certeza, mas o fato é que ele criou a melhor música jamais feita para abrir um show. Claro que estou falando de Palco, música lançada no álbum Luar, de 1981 e que, desde então, invariavelmente abre suas apresentações. A escolha não poderia ser diferente agora que Gil percorre o país com sua última turnê, chamada "Tempo Rei" e que neste último sabado, 7 de junho, pousou na Arena Mané Garrincha, em Brasília.  "Subo neste palco, minha alma cheira a talco, feito bumbum de bebê". São os versos que renovam os votos de Gil com sua arte e sua apresentação. Sua alma e fé na música renascem sempre que ele sobe no palco. "Fogo eterno pra afugentar o inferno pra outro lugar, fogo eterno pra  consumir o inferno fora daqui". O inferno fora do palco, que é o seu território sagrado. Território define bem o espetáculo de Gil. Uma jornada por todos os seus territórios, da Bahia ao exílio do Rio de Janeir...

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Pepe Mujica

 O ex-presidente uruguaio Pepe Mujica foi uma das maiores figuras dos tempos que vivemos. Apareceu para o mundo ao assumir a presidência do seu país, quando já tinha 75 anos. Ex-guerrilheiro de esquerda, que ficou preso por quase 13 anos durante a ditadura militar uruguaia, demonstrava o tempo todo uma serenidade que parece incompatível com a guerrilha. Talvez pela idade, não sei, mas Mujica se transformou em um guerrilheiro das palavras. Não governou com vingança contra aqueles que mal o fizeram, mas com ponderação. Era alguém capaz de tomar medidas que talvez não gostasse, por entender que era o que deveria ter sido feito. Era alguém pragmático nas miudezas, mas radical em seus princípios. Esta talvez seja sua principal virtude, em um tempo no qual a esquerda, pelo menos a brasileira, é pragmática nos princípios, mas radical nas pequenas coisas.  Um velhinho meio desajeitado, falava com aquele ar grave e cheio de sabedoria, como se fosse um velho personagem de um livro de Ga...