Pular para o conteúdo principal

Sobre o turismo lá e aqui

Estava ano passado em João Pessoa, simpática capital da Paraíba. Entre as indas e vindas para a praia, planejávamos conhecer também as outras atrações da cidade, como o Centro Histórico, o Farol de Cabo Branco e o Bolero do Ravel de Jurandir do Sax na Praia do Jacaré. Perguntamos sobre como ir até esses locais no hotel (ótimo hotel, aliás) e recebemos uma lista de uma empresa turística, com o valor dos passeios para vários lugares.
Quer conhecer o belo centro histórico de João Pessoa? Contrate um passeio

Depois, acabamos conhecendo um taxista muito gente boa, que nos levou para um City Tour mais em conta e ainda nos disse qual ônibus poderíamos pegar para chegar até o Farol do Cabo Branco.

No Brasil, o turismo vive muito nessa cultura do passeio. Para tudo há um passeio. Em João Pessoa mesmo, não conseguíamos ficar um minuto na praia sem que aparecesse alguém oferecendo um passeio para as praias do sul, um passeio até recifes no meio do mar. Passeios, passeios.

Tudo bem, eu sou meio radical em relação aos passeios. Acho que eles matam a graça do turismo ao juntar vários turistas num mesmo local, tirando um contato mais natural com o habitat. Mas é demais. Vá a Paraty é veja vários passeios para ilhas, passeios para a floresta. Não faça turismo por conta própria, vá com alguém. Acredito que a CVC não faria tanto sucesso fora do Brasil.

Em um sábado, fomos até a rodoviária Tres Cruces em Montevidéu (bela rodoviária shopping), para comprar nossas passagens de volta para o Brasil. Passagens compradas, decidimos voltar de ônibus para o hotel. Fomos até a central de informações turísticas e quem nos atendeu nos deu um mapa, mostrou os principais interesses e disse que ônibus devíamos pegar para chegar perto do nosso hotel. Sim, se você quisesse poderia comprar um "passeio". Mas essa não é a única opção.

Depois, em Colônia do Sacramento, a mesma coisa. A mulher nos mostrou onde ficava o hotel, como chegarmos e quais eram as principais atrações da cidade. Não tentou nos oferecer passeios, dar um telefone de alguém que fosse nos levar a uma vinícola por um preço módico.

De volta ao Brasil, estamos em Gramado. Resolvemos passar no Centro de Informações Turísticas para pegar um mapa da cidade e perguntar sobre a melhor forma de ir para o Gramado. Fomos atendidos por um cidadão que quis nos oferecer passeios por vinícolas, para Canela, para parques. Não sabia informar direito se tinha ônibus para Canela, qual a frequência. Só sabia de passeios.

Uma lástima.

Por outro lado, tenho que elogiar o turismo em Santa Catarina. Pelo menos nas estradas de Santa Catarina.
Você não vai se perder para chegar até o Morro da Igreja e da Pedra Furada

Fiz um "passeio" por conta própria pela Serra Catarinense, até o Morro da Igreja. Me surpreendi com a quantidade de informação que existe nas estradas. Em cada canto há uma placa informando o que há na próxima cidade, quais são as atrações turísticas, se dá pra fazer turismo rural, ecoturismo, turismo de aventura, todas as grutas, morros, vistas. Não dá pra se perder.

Um trabalho de turismo, realmente.

Comentários

Postagens mais visitadas

O Território Sagrado de Gilberto Gil

Gilberto Gil talvez não saiba ou, quem sabe saiba, mas não tenha plena certeza, mas o fato é que ele criou a melhor música jamais feita para abrir um show. Claro que estou falando de Palco, música lançada no álbum Luar, de 1981 e que, desde então, invariavelmente abre suas apresentações. A escolha não poderia ser diferente agora que Gil percorre o país com sua última turnê, chamada "Tempo Rei" e que neste último sabado, 7 de junho, pousou na Arena Mané Garrincha, em Brasília.  "Subo neste palco, minha alma cheira a talco, feito bumbum de bebê". São os versos que renovam os votos de Gil com sua arte e sua apresentação. Sua alma e fé na música renascem sempre que ele sobe no palco. "Fogo eterno pra afugentar o inferno pra outro lugar, fogo eterno pra  consumir o inferno fora daqui". O inferno fora do palco, que é o seu território sagrado. Território define bem o espetáculo de Gil. Uma jornada por todos os seus territórios, da Bahia ao exílio do Rio de Janeir...

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Pepe Mujica

 O ex-presidente uruguaio Pepe Mujica foi uma das maiores figuras dos tempos que vivemos. Apareceu para o mundo ao assumir a presidência do seu país, quando já tinha 75 anos. Ex-guerrilheiro de esquerda, que ficou preso por quase 13 anos durante a ditadura militar uruguaia, demonstrava o tempo todo uma serenidade que parece incompatível com a guerrilha. Talvez pela idade, não sei, mas Mujica se transformou em um guerrilheiro das palavras. Não governou com vingança contra aqueles que mal o fizeram, mas com ponderação. Era alguém capaz de tomar medidas que talvez não gostasse, por entender que era o que deveria ter sido feito. Era alguém pragmático nas miudezas, mas radical em seus princípios. Esta talvez seja sua principal virtude, em um tempo no qual a esquerda, pelo menos a brasileira, é pragmática nos princípios, mas radical nas pequenas coisas.  Um velhinho meio desajeitado, falava com aquele ar grave e cheio de sabedoria, como se fosse um velho personagem de um livro de Ga...