Pular para o conteúdo principal

Que som é esse cara?

A mudança de sonoridade de uma banda é um processo natural. Todos nós mudamos a cada dia, ganhamos nossas referências em nossas vidas e, para um artista, é natural que essas mudanças apareçam no seu trabalho. No entanto, existem algumas bandas que extrapolam essa situação. Grupos, dos quais eu posso não ser exatamente fã, mas que ao escutar uma música nova eu penso: o que é isso cara? O que você estão fazendo com vocês próprios?

Maroon 5
Eu estava no meu primeiro ano de faculdade e o Maroon 5 fazia enorme sucesso no Disk MTV, graças ao hit chiclete This Love. Um pop de qualidade, com alguma influência de soul, você escutava uma vez e ficava com aquilo na cabeça durante o resto da sua vida. Não era algo que eu gostasse, mas pelo menos não ofendia meus ouvidos. Diria que era uma música simpática.

Curiosamente, This Love fazia parte de um disco de 2002, que por algum motivo demorou três anos para estourar. Na carona do sucesso desse amor, o Maroon 5 ainda emplacou a irritante She Will Be Loved. Logo depois, desapareceram, como é normal nessa sociedade imediatista.

Anos depois, o mundo é surpreendido com a irritante Moves Like Jagger (uuuuuuuhhhhhuuuuhhh), que para uma surpresa ainda maior, também é do Marron 5. A academia que eu frequento toca um reggae irritante da banda. E ao que parece, eles começaram a fazer um monte de parcerias com outros artistas, naquele esquema de "artista gostosa, rapper mala", só que no caso, o vocalista faz o papel da gostosa que todo mundo quer comer.

Que papel é esse, cara?

Kings of Leon
Prontos para cantar "I want in that way"
Conheci o Kings of Leon em algum momento de 2004 ou 2005, com The Bucket, música que descendia diretamente do Creedence Clearwater Revival (não conhecia CCR na época, mas digamos que esse é um reconhecimento póstumo). Uma escutada em outros três singles já era suficiente para chegar a conclusão de que eles eram os novos White Stripes (Four Kicks), apesar de não dar para escutar nada do que o vocalista meio fanho cantava.

Uma audição em um disco deles (na época, eu comprei) mostrava que o mundo não era tão perfeito assim. Algumas músicas davam dor de cabeça de tão ruins (o que raios é aquela Day Old Blues?). A ruindade me fez ignorá-los durante algum tempo. Até que em 2008, o mundo passou a falar de Use Somebody, música que chegou ao topo das paradas do mundo inteiro. Fui escutar e a música era uma merda.

Mas não era uma merda sinistra como as músicas ruins dos seus primeiros discos. O Kings of Leon havia se transformado completamente. Eles viraram uma espécie de Boy Band do Country Rock. Abandonaram o visual barbado para apostar em camisas regatas, músculos e poses estilo Backstreet Boys.

Que porra é essa, cara?

Snow Patrol
Hoje é até vergonhoso falar que você gosta de Snow Patrol. Mas, quando eu comecei a escutar a banda em 2005, não havia vergonha nenhuma no fato, até porque ninguém os conhecia. O Snow Patrol era uma daquelas bandas inglesas que fizeram algum sucesso por lá, mas que ninguém escutava fora da ilha. Final Straw, seu disco de 2003, é brilhante. O disco que o Coldplay jamais lançou. Disco sensível, grandioso, e que conta com a sensacional Run. Final Straw em si, já era uma mudança para a banda, que até então fazia um som mais inspirado em Dinosaur Jr.

Tudo mudou. Em 2006 o Snow Patrol alcançou o sucesso mundial com Open Your Eyes, música que ganhou 300 mil versões remixadas, conquistou as baladas e fez a comunidade da banda no Orkut quintuplicar de tamanho, apenas por pessoas que conheciam apenas o remix. Dois discos medianos depois, em 2011 aparece um novo clipe da banda, Called Out in the dark e eu resolvo dar uma chance. Que merda.

O grupo parece ter resolvido acabar com o trabalho dos DJs do mundo e lançarem eles próprios seu disco de música eletrônica. Por muito menos, Dado Dollabella teria dado uma machadada na mesa de som deles.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab

Fã de Esporte

A vida no começo de 2005 era um pouco estranha. Eu tinha saído do colégio e passado no vestibular para jornalismo. Mas, devido ao atraso de programação provocado pelas greves, as aulas iriam começar só no final de abril. Foram quatro meses de um pequeno vácuo existencial. Talvez fosse até bom tirar um período sabático após o fim do Ensino Médio, mas seria melhor se fosse algo programado, enfim. Nesse período, boa parte da minha vida se dedicava a acompanhar a programação da ESPN Brasil. Não que eu já não acompanhasse antes, o Linha de Passe da segunda-feira era um compromisso de agenda há algum tempo, assim como o Sportscenter no fim do dia, principalmente nos dias de rodada noturna na quarta-feira. Eram tempos que a internet ainda engatinhava e o Sportscenter era uma grande oportunidade de saber os resultados da rodada. Aquela ESPN de José Trajano moldou o caráter de uma geração de jornalistas e fãs de esporte, como eles passaram a chamar seus telespectadores. Sempre gerava ironias de