Pular para o conteúdo principal

Ranking de Segundos Pilotos

Dia desses caí em um vídeo no qual os jornalistas Flávio Gomes e Fábio Seixas debatiam qual era a maior disparidade entre um primeiro e um segundo piloto da história da Fórmula 1. Gerhard Berger, Rubens Barrichello, enfim, qual seria o piloto que viveu as dores e delícias de ser coadjuvante de um campeão, qual deles seria o mais desprezível?

Não lembro qual foi a conclusão deles, mas resolvi fazer uma análise de dados. Primeiro criei um critério de seleção. Para entrar nessa lista, o primeiro piloto precisa ter sido campeão por duas vezes tendo o mesmo companheiro ao seu lado. É importante, não pode ter visto seu adversário como campeão, o que eliminaria as linhas de dois pilotos. Dessa forma, chegamos a oito duplas. 

Resolvi analisar três dados: retrospecto no grid de largada, retrospecto na linha de chegada e pontos somados enquanto os dois estiveram juntos.

Vamos às oito duplas, em ordem cronológica.

Jackie Stewart e François Cevert


Tricampeão do mundo, o escocês Jackie Stewart esteve escudado pelo francês François Cevert nos seus dois títulos pela Tyrrell em 1971 e 1973. Tinha uma relação mais de professor e aprendiz e dizem que Cevert assumiria o posto de primeiro piloto em 74, com a aposentadoria de Stewart. No entanto, o francês morreu degolado em um acidente nos Estados Unidos.

Correram juntos por quatro temporadas e 47 corridas. Neste período, Cevert superou Jackie Stewart em 12,7% das classificações e 32,5% das corridas. Fez 30,47% dos pontos.

 Ayrton Senna e Gerhard Berger


Gerhard Berger chegou na McLaren em 1990, substituindo Alain Prost e pela primeira vez teve um carro vencedor em suas mãos. Por três temporadas ele correu ao lado de Ayrton Senna e ficou atrás nas três, vendo Senna ser campeão em 1990 e 1991. Nesses três anos, ele superou Senna em 16,6% das largadas, 32,5% das corridas e fez 37,6% dos pontos.

Mika Hakkinen e David Coulthard


Fizeram uma das parcerias mais longevas da história. Hakkinen chegou na equipe em 1993, como piloto de testes após duas temporadas na decadente Lotus, mas logo virou titular. A partir de 1996 ele recebeu a companhia de David Coulthard, que assumiu uma vaga na Williams após a morte de Senna, mostrando velocidade e erros em igual proporção.

Correram juntos até 2001, quando o finlandês se aposentou. Coulthard superou Hakkinen em 31,3% das classificações, em 43,8% das corridas e fez 45,1% do total de pontos marcados pela dupla.

Michael Schumacher e Rubens Barrichello


Talvez o caso mais clássico de um primeiro e segundo piloto, sendo o brasileiro obrigado a abrir passagem para o alemão por duas vezes, em anos consecutivos, na linha de chegada da Áustria. Foram parceiros por seis temporadas, período em que Schumacher e a Ferrari construíram uma dinastia até então nunca antes vista.

Rubinho superou seu parceiro em 24% das classificações, 26,2% das corridas e fez 39,9% dos pontos totais da dupla - que vem a ser a que mais disputou corridas na história da categoria.

Fernando Alonso e Giancarlo Fisichella


Dupla não muito lembrada, o italiano e o espanhol dividiram os boxes da Renault por apenas dois anos. Mas, nesses dois anos Alonso ganhou seus dois títulos, assim como a Renault garantiu a vitória nos mundiais de construtores. Fisichella largou na frente de Alonso em 27% das corridas, cruzou a linha de chegada antes em 17,6% e fez 32,7% dos pontos da dupla.

Sebastian Vettel e Mark Webber


O jovem Vettel chegou na Red Bull em 2009, quebrando todos os recordes de precocidade da categoria até então. Webber estava lá desde um pouco antes e se aposentou no fim de 2013. Foram cinco anos de rivalidade, com o alemão conquistando quatro títulos consecutivos e um vice-campeonato no período.

Webber superou o companheiro em 23,4% dos grid, em 29% das corridas e marcou 40,1% dos pontos do companheiro.

Lewis Hamilton e Valtteri Bottas


O finlandês chegou à poderosa Mercedes em 2017, após o título e aposentadoria de Nico Rosberg que encerraram o fratricídio da escuderia alemã. Com a chegada de Bottas, Hamilton emendou quatro títulos seguidos e disparou para construir os maiores números de qualquer piloto na história.

O finlandês foi mais rápido nos treinos em 31% das vezes, cruzou a linha de chegada em 25,2% das corridas e marcou 40,8% dos pontos obtidos pela dupla.

Max Verstappen e Sergio Pérez


Quis o destino que Sergio Pérez chegasse na Red Bull no ano em que a equipe conseguiu um carro capaz de ser campeão. Por lá ele permaneceu nos dois anos seguintes, completando três anos de parceria com Verstappen, que ganhou todos os campeonatos.

O mexicano superou Verstappen em 15,1% dos treinos, na mesma quantidade de corridas e marcou 35,3% dos pontos.

O Ranking

Agora vamos para o ranking, do melhor aos piores escudeiros. Resolvi fazer uma lista dos melhores até os piores nos três quesitos avaliados e dar uma pontuação de 10-8-6-5-4-3-2-1 na ordem, lembrando o sistema adotado na Fórmula 1 entre 2003 e 2009. Vamos ao resultado.

1 David Coulthard

Coube a ti, David Coulthard, a honra de ser o melhor segundo piloto entre os listados. De fato, ele é o único que conseguiu superar seu companheiro campeão, em duas oportunidades: 1997 e 2001, neste último quando o finlandês já estava mais focado na aposentadoria. O problema é que, nos anos em que a McLaren tinha o melhor carro no grid, ele apanhou feio do companheiro.

Dado extra: os dois fizeram 13 dobradinhas, nas quais Coulthard foi o vencedor em 3 e Hakkinen em 10.

2 Valtteri Bottas

Se era constantemente superado nas corridas por Lewis Hamilton, Bottas até que conseguiu um percentual razoável de largadas na frente do maior polesitter da história. Foi vice-campeão duas vezes e só saiu sem vitórias em um ano: 2018. Se não conseguia brigar com Hamilton, fez um bom papel de coadjuvante.

Dado extra: os dois fizeram 22 dobradinhas pela Mercedes, com 4 vitórias de Bottas e 18 de Hamilton. (Há uma dobradinha extra, quando Bottas ainda estava na Williams).

3 Gerhard Berger

Os números de chegadas na frente acabam inflados, já que na época havia mais quebras do que nos tempos atuais. Conta a seu favor ainda a temporada de 1992, quando acabou apenas um ponto atrás de Senna, melhorando os números do austríaco, que no geral apanhou feio do brasileiro.

Dado extra: Foram quatro dobradinhas no período, com uma penas uma vitória de Berger - aquela no Japão, com Senna abrindo passagem na última curva. Berger ainda teve Senna em segundo no GP do Japão de 87, quando corria na Ferrari.

4 Mark Webber

O australiano quase superou Vettel em uma temporada e por duas vezes chegou a sonhar com isso. Fora isso, foi um segundo piloto burocrático, fazendo o que dava para fazer. Pesa contra as péssimas temporadas em 2011 e 2013, quando a Red Bull massacrou a concorrência e Webber só conseguiu 1 vitória, oferecida pelo companheiro.

Dado extra: Foram 16 dobradinhas no período, com apenas 3 vitórias de Webber, uma delas com a equipe mandando ele vencer no Brasil em 2011.

5 Rubens Barrichello

Absolutamente na média de todas as listas. A inconsistência nos resultados, principalmente em 2001 e 2002, acabou o afastando do topo. Poderia ter sido um vice-campeão bem mais tranquilo em anos que a Ferrari era absolutamente dominante.

Dado extra: foram 25 dobradinhas no período e Rubinho ganhou 5 (todas com Schumacher a no máximo 1 segundo de distância).

6 Giancarlo Fisichella

Seu grande mérito foi ter conseguido um número razoável de posições de grid na frente de Alonso - que nunca foi um velocista de uma volta, diga-se. Fora isso, teve aproveitamento de pontos ridículo, sendo facilmente batido. Após anos sendo considerado uma promessa ou um piloto que estava no lugar errado na hora errada, a passagem de Fisichella pela Renault sepultou sua carreira.

Dado extra: os dois fizeram apenas uma dobradinha, na Malásia em 2006 e surpreendentemente com Fisichella na frente. Mas isso é mais demérito do italiano. Nos seus anos de Renault ele conseguiu apenas um segundo lugar, sendo superado por Raikkonen na última volta do Japão.

7 François Cevert

O número de chegadas na frente de Stewart parece inflado por conta do excesso de abandono da época. Mas isso o salvou da última posição. Em todo fato, é o único piloto que cumpriu esse papel como promessa e não como um piloto estabelecido, o que lhe dá um pouco mais de méritos.

Dados extra: Foram seis dobradinhas no período, todas com Cevert em segundo e apenas na última delas, Alemanha 1973, ele chegou a menos de 15 segundos de Stewart.

8 Sergio Pérez

Não tem jeito. Pérez é o pior segundo piloto de todos os tempos. Com um dos melhores carros da história, sofreu para ser vice-campeão. Quase nunca conseguiu ameaçar Verstappen e ainda foi facilmente batido pelo companheiro em oportunidades na qual teve a chance de largar na frente.

Dado Extra: Foram 11 dobradinhas Verstappen-Pérez, o mexicano superando o holandês em duas ocasiões.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab