Pular para o conteúdo principal

O absurdo da existência humana no tanque de um Corolla

 Paro para abastecer o meu carro é há uma pequena fila no posto de gasolina. Após um breve período de espera, chego na bomba, abro o vidro do carro, desligo o motor e destravo o tanque de combustível. Atrás do meu carro passa um frentista comentando com os colegas que "deu 230 reais pra encher o tanque de um Corolla. Nunca vi isso".

O preço do combustível é algo do qual, por vezes, não faz bem se informar. É um negócio que você tem que fazer, não tem jeito, então é melhor só ir abastecer e pronto. Mas, não tem como não sentir o aumento dos preços, como por vezes não perguntar se o frentista não esqueceu de desligar a bomba espalhou combustível pelo chão equivocadamente.

Voltando ao referido frentista do referido dia, após comentar sobre o preço do tanque do Corolla, ele se sentou em um cadeira, abaixou a máscara e ficou fitando o vazio. Colegas foram perguntar para ele "o que aconteceu japonês?" e ele repetiu "deu 231 pra abastecer um tanque de um Corolla. 50 litros".

Permaneceu com o olhar perdido, encarando o absurdo da existência humana, o abismo da inflação, a falta de sentido em tudo o que fazemos, porque não há sentido em viver uma vida que exiga 230 reais para abastecer o tanque de um Corolla.

(PS: minha conta deu 160, o tanque do meu carro é pequeno. Mas tempos atrás, eu enchia meu tanque com gasolina e ainda levava mais uns 5 galões para casa com esse valor).

Comentários

Postagens mais visitadas

O Território Sagrado de Gilberto Gil

Gilberto Gil talvez não saiba ou, quem sabe saiba, mas não tenha plena certeza, mas o fato é que ele criou a melhor música jamais feita para abrir um show. Claro que estou falando de Palco, música lançada no álbum Luar, de 1981 e que, desde então, invariavelmente abre suas apresentações. A escolha não poderia ser diferente agora que Gil percorre o país com sua última turnê, chamada "Tempo Rei" e que neste último sabado, 7 de junho, pousou na Arena Mané Garrincha, em Brasília.  "Subo neste palco, minha alma cheira a talco, feito bumbum de bebê". São os versos que renovam os votos de Gil com sua arte e sua apresentação. Sua alma e fé na música renascem sempre que ele sobe no palco. "Fogo eterno pra afugentar o inferno pra outro lugar, fogo eterno pra  consumir o inferno fora daqui". O inferno fora do palco, que é o seu território sagrado. Território define bem o espetáculo de Gil. Uma jornada por todos os seus territórios, da Bahia ao exílio do Rio de Janeir...

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Pepe Mujica

 O ex-presidente uruguaio Pepe Mujica foi uma das maiores figuras dos tempos que vivemos. Apareceu para o mundo ao assumir a presidência do seu país, quando já tinha 75 anos. Ex-guerrilheiro de esquerda, que ficou preso por quase 13 anos durante a ditadura militar uruguaia, demonstrava o tempo todo uma serenidade que parece incompatível com a guerrilha. Talvez pela idade, não sei, mas Mujica se transformou em um guerrilheiro das palavras. Não governou com vingança contra aqueles que mal o fizeram, mas com ponderação. Era alguém capaz de tomar medidas que talvez não gostasse, por entender que era o que deveria ter sido feito. Era alguém pragmático nas miudezas, mas radical em seus princípios. Esta talvez seja sua principal virtude, em um tempo no qual a esquerda, pelo menos a brasileira, é pragmática nos princípios, mas radical nas pequenas coisas.  Um velhinho meio desajeitado, falava com aquele ar grave e cheio de sabedoria, como se fosse um velho personagem de um livro de Ga...