Pular para o conteúdo principal

É preciso admirar Marta enquanto ainda há tempo

Nunca houve outra jogadora como Marta. A brasileira estará para sempre na história do futebol feminino por ser, entre outras coisas, um paradigma do jogo. Eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo, não há nenhuma outra que se compare a Marta. As outras jogadoras se destacavam pelo absurdo poder de finalização, algumas se beneficiavam da força física para atropelar as adversárias, há aquelas que são muito técnicas, mas nenhuma é mágica.

Marta é habilidade pura, domina o espaço do jogo e é capaz de algumas jogadas antológicas, como seu inesquecível gol contra os Estados Unidos na Copa do Mundo de 2007. Mas, estes são os fatos concretos. A imortalidade de Marta está no imaginário que ela representa.

Para todo o sempre, sempre que uma jogadora aparecer e fizer jogadas espetaculares em qualquer lugar do mundo, ela será comparada a Marta. A brasileira é praticamente o modelo de jogadora ideal, será um eterno ponto de comparação de qualidade, é quase um mito fundacional do esporte, daqueles que os mais velhos defenderão sua intocabilidade e os mais novos tentarão encontrar vulnerabilidade para apontar o triunfo de uma jogadora atual.

Incrível pensar que, 12 anos depois da histórica medalha de prata em Atenas e de todas as promessas de valorização feitas na ocasião, o futebol feminino avançou dois passos. Vieram outra medalha de prata e um vice-campeonato mundial, sempre com Marta no protagonismo, coadjuvada por Cristiane. Agora que as duas se aproximam da aposentadoria, o futuro da modalidade no Brasil não parece ser o mais brilhante.

O impacto de Marta pode ser sentido na diferença entre os tempos do jogo contra Austrália, ou pela atuação contra a Itália. Mas mesmo ela pode não ser suficiente para superar as anfitriãs francesas, que surgem como favoritas imediatas ao título logo depois das sempre soberanas norte-americanas. Dessa forma, não será surpresa se a maior jogadora de todos os tempos fizer sua última partida de Copa do Mundo no domingo.

Precisamos aproveitar Marta, enquanto ainda há tempo, porque não vai durar muito mais.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab

Fã de Esporte

A vida no começo de 2005 era um pouco estranha. Eu tinha saído do colégio e passado no vestibular para jornalismo. Mas, devido ao atraso de programação provocado pelas greves, as aulas iriam começar só no final de abril. Foram quatro meses de um pequeno vácuo existencial. Talvez fosse até bom tirar um período sabático após o fim do Ensino Médio, mas seria melhor se fosse algo programado, enfim. Nesse período, boa parte da minha vida se dedicava a acompanhar a programação da ESPN Brasil. Não que eu já não acompanhasse antes, o Linha de Passe da segunda-feira era um compromisso de agenda há algum tempo, assim como o Sportscenter no fim do dia, principalmente nos dias de rodada noturna na quarta-feira. Eram tempos que a internet ainda engatinhava e o Sportscenter era uma grande oportunidade de saber os resultados da rodada. Aquela ESPN de José Trajano moldou o caráter de uma geração de jornalistas e fãs de esporte, como eles passaram a chamar seus telespectadores. Sempre gerava ironias de