Pular para o conteúdo principal

Crises do Jornalismo

Tenho para mim a impressão de que o jornalismo está em uma crise eterna. Certa vez li um livro de Gay Talese, que ele falava sobre a crise do jornalismo nos anos 60, quando da popularização da televisão. Talese citava o atual momento crítico de alguns anos atrás, pelos mais diversos motivos. Desde que entrei na faculdade de jornalismo em 2005, a crise sempre foi discutida e o fim do jornal impresso sempre esteve marcado para o próximo mês. Acho que não seria possível criar verbetes na Wikipédia sobre a crise de 2006, ou a crise de 2009, ou a crise dos intermediários em 2013. É a mesma crise, uma eterna crise.

Mas, enfim, digo duas coisas que me irritam na cobertura jornalística atual.

Amarildo sumiu no Twitter bem antes de ele sumir na Rede Globo ou nos grandes portais. Amarildo já era procurado no Facebook muito antes de passar no Jornal Nacional.

Tenho impressão de que os principais veículos não se adaptaram a essas manifestações populares de junho, que pressionaram também a imprensa. A Globo estava lá, acostumada a passar o que queria e não ser importunada por isso. Começou a tomar pedradas de manifestantes e resolveu adotar uma linha mais popular.

Então, Amarildo some e o caso ganha as redes sociais. Imagino o pessoal dentro das principais redações se questionando "e esse caso do Amarildo? Não deve dar nada não, mais um sumiço". As redes pressionam a polícia, pressionam o governador e chega um momento em que não tem o que fazer, Amarildo vai parar no Jornal Nacional.

Tenho a impressão de que dentro dos grandes veículos eles pensam em ver qual será repercussão do caso, para então noticiar. "Vamos ver até onde isso vai".
***
Também me irrita o protagonismo das pessoas ao invés dos fatos. Me irrita a inúmera quantidade de manchetes com "Fulano diz". Mais importante do que foi definido na reunião, do que a reunião significa, mais importante é o que os figurões tem a dizer. Mais importante do que o caso de corrupção, é o que alguém tem a dizer sobre o caso de corrupção. O presidente vai participar de um encontro para lançar um programa de desenvolvimento científico? Deixa isso pra lá, perguntem a ele sobre a crise com alguma bancada, a pressão de um partido, uma denúncia contra um partidário. No dia seguinte a manchete será "Presidente diz". Sua fala é muito menos importante do que o fato em si, mas não importa.

Me irrita a fofoca política.

Comentários

Postagens mais visitadas

O Território Sagrado de Gilberto Gil

Gilberto Gil talvez não saiba ou, quem sabe saiba, mas não tenha plena certeza, mas o fato é que ele criou a melhor música jamais feita para abrir um show. Claro que estou falando de Palco, música lançada no álbum Luar, de 1981 e que, desde então, invariavelmente abre suas apresentações. A escolha não poderia ser diferente agora que Gil percorre o país com sua última turnê, chamada "Tempo Rei" e que neste último sabado, 7 de junho, pousou na Arena Mané Garrincha, em Brasília.  "Subo neste palco, minha alma cheira a talco, feito bumbum de bebê". São os versos que renovam os votos de Gil com sua arte e sua apresentação. Sua alma e fé na música renascem sempre que ele sobe no palco. "Fogo eterno pra afugentar o inferno pra outro lugar, fogo eterno pra  consumir o inferno fora daqui". O inferno fora do palco, que é o seu território sagrado. Território define bem o espetáculo de Gil. Uma jornada por todos os seus territórios, da Bahia ao exílio do Rio de Janeir...

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Wilco de 1 a 13

No próximo domingo o Wilco retorna ao Brasil para a sua terceira passagem em solo nacional (a primeira vez que irei assistir). Uma oportunidade para resgatar a discografia deste grupo que conheci em 2004 e pouco depois se tornou uma obsessão pessoal. 1. AM (1995) O Wilco nasce das cinzas do Uncle Tupelo, aclamado grupo da cena country alternativa norte-americana. O nascimento foi meio traumático, já que o Uncle Tupelo acabou no momento em que Jay Farrar avisou que odiava Jeff Tweedy. Bem, os outros membros do Uncle Tupelo ficaram com Tweedy para formar o Wilco, então o problema devia ser Jay Farrar. O primeiro disco do Wilco segue caminhando exatamente no mesmo caminho onde estava o grupo anterior, um Country Rock moderno com um pouco de PowerPop setentista, bebendo na fonte do Flying Burrito Brothers. Há algumas boas músicas como I Must Be High , Box Full of Letters e Passenger Side , mas o resultado não impressionou nem público, nem crítica. Tivesse o Wilco se desintegrado após este...