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Auro Ida

A morte de Auro Ida me chocou de uma maneira diferente. Eu não o conhecia. Ou melhor, quase não o conheci.

Na noite de quinta-feira eu fui ao cinema, no shopping 3 Américas. Passando em frente a rampa da Livraria Janina, minha namorada cumprimentou um homem. Pele queimada, cabelos cheios e grisalhos, japonês de camisa vermelha. Um japonês grande, para os padrões japoneses.

Conversam sobre amenidades da profissão jornalística. E então, ela me apresenta. Cumprimento também o japonês. Ele também apresenta a jovem de cabelos pintados de loiro ao seu lado, a sua namorada. Estavam juntos de outro menino, que devia ter uns 14 anos.

Seguimos em frente, após a breve conversa. Pergunto a minha namorada quem ele era. Ela diz que era o Auro Ida. Em um primeiro momento, entendi Auro William. Explica que é um jornalista, desses jornalistas das antigas, já trabalhou na Gazeta, já foi secretário de comunicação da prefeitura de Cuiabá. O ingresso para o cinema foi comprado as 20h52. Creio que encontrei Auro Ida cinco minutos antes.

Assisti ao filme e retornei para casa. Estava em casa por volta das 23h30. Fui dormir. Nesta hora, Auro Ida já estava morto. Foi atingido por seis tiros, enquanto deixava a namorada, a jovem namorada, na sua casa no Jardim Fortaleza. Ele morreu duas horas depois eu o encontrar, o conhecer, o ver pela primeira vez, o cumprimentar no shopping.

Soube da notícia na manhã seguinte. Eu poderia jamais ter conhecido Auro Ida, de forma que eu nem saberia quem ele era. Poderia o ter conhecido há vários anos e nem me lembrar, ou me lembrar vagamente quem ele era. Mas, o conheci menos de 2 horas antes de ele ser assassinado. Fui das últimas pessoas que o cumprimentou. Estranho, como tudo acontece.

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