Pular para o conteúdo principal

Amsterdã

Havíamos acabado de cruzar a fila da imigração e a sensação era a de ter conquistado o mundo. O enorme aeroporto com seus corredores iluminados e idiomas misturados, as placas com uma língua incompreensível. Sento no banco para conectar o wi-fi e me certificar do trajeto do trem, com a sensação de que há uma vida inteira para ser vivida. Ali eu estava, em Amsterdã, com a pessoa que eu mais gosto no mundo prestes a iniciar os 20 dias da viagem mais planejada de todos os tempos.

Observava o Albert Heijn sem saber como eles dominam o país. O trem era algo tão diferente para nós que só tivemos certeza que tinha dado certo quando chegamos no hotel. Deixamos nossas coisas por lá e saímos. Era um dia de sol, de um sol maravilhoso que não iríamos ver pelos próximos dez dias. Caminhamos pelo De Pipj e já estávamos suficientemente encantados com aquelas muralhas de prédios cor de telhado e o tram que passava o tempo inteiro e as pessoas tão bonitas em suas incontáveis bicicletas.

Então chegamos nos canais. Singel era o nome do primeiro que vimos e ficava perto da fábrica da Heineken. Margeando o canal havia um parque ou talvez fosse apenas um jardim e algumas flores ainda resistiam àquele começo de outono, as folhas já começavam a se depositar sobre o gramado impecavelmente verde. O sol refletia nos canais e caminhando por sua margem logo chegamos no Rijksmuseum e logo estávamos no letreiro famoso e o sol continuava a brilhar de uma maneira que era impossível não ser feliz.

Dali nos perdemos em seu labirinto hipnótico de canais e a cada momento encontrávamos uma construção surpreendente e nos apaixonamos pelo Jordaan, sentamos na Dam Square e fomos soterrados pelos pombos e mesmo assim tudo parecia perfeito naquele instante, enquanto coffees shops seguiam sua atividade, garotas seguiam na janela e os moinhos continuavam a girar em um local imaginado. A vida era perfeita e nada mais.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab

Fã de Esporte

A vida no começo de 2005 era um pouco estranha. Eu tinha saído do colégio e passado no vestibular para jornalismo. Mas, devido ao atraso de programação provocado pelas greves, as aulas iriam começar só no final de abril. Foram quatro meses de um pequeno vácuo existencial. Talvez fosse até bom tirar um período sabático após o fim do Ensino Médio, mas seria melhor se fosse algo programado, enfim. Nesse período, boa parte da minha vida se dedicava a acompanhar a programação da ESPN Brasil. Não que eu já não acompanhasse antes, o Linha de Passe da segunda-feira era um compromisso de agenda há algum tempo, assim como o Sportscenter no fim do dia, principalmente nos dias de rodada noturna na quarta-feira. Eram tempos que a internet ainda engatinhava e o Sportscenter era uma grande oportunidade de saber os resultados da rodada. Aquela ESPN de José Trajano moldou o caráter de uma geração de jornalistas e fãs de esporte, como eles passaram a chamar seus telespectadores. Sempre gerava ironias de