Pular para o conteúdo principal

Nossos comentaristas

O futebol brasileiro está em crise. Nossa seleção não é mais um selecionado de craques, não temos um punhado de atacantes e meias brilhando no futebol europeu, os campeonatos locais não são um primor técnico. E os nossos técnicos? Não fazem parte do primeiro escalão mundial. Tem ali o Tite, mas no geral quando assistimos qualquer time brasileiro contra qualquer time sul-americano de segunda categoria, a impressão é que o estrangeiro tem muito mais padrão tático.

Sim, as coisas não vão bem dentro de campo. E fora? Nossos dirigentes são uma reprodução fiel do que é a política local, as federações são um paraíso fisiologista com cartolas que se perpetuam por décadas no poder. As arquibancadas dos estádios, os velhos e os novos, estão geralmente mais vazias do que cheias.

E temos os nossos comentaristas. Ah, os nossos comentaristas, que show de horrores. Estamos cheios de comentaristas que comentam o óbvio e não contribuem nada para que o futebol dentro e fora de campo melhore.

Na quarta-feira, o São Paulo realizou uma partida pavorosa contra o Danubio do Uruguai. Partida fraca, fraca, fraca. Mas para os comentaristas Belletti e Maurício Noriega o grande crime era Paulo Miranda estar jogando na lateral direita. Zagueiro de origem, o fraco Paulo Miranda costuma a quebrar uns galhos na lateral desde 2012. No Brasil é crime escalar zagueiro na lateral. "O São Paulo continua com três zagueiros!".

Veja na Europa. O Barcelona de Guardiola sempre jogou com ou Puyol na lateral direita, ou Abidal na lateral-esquerda, dois zagueiros de origem. A Espanha de 2010 tinha Sergio Ramos na lateral-direita. A Alemanha jogava com Howedes na lateral-esquerda, a vice-campeã Argentina tinha Rojo na lateral, a terceira colocada Holanda tinha Blind na função. Todos que um dia foram zagueiros.

No futebol europeu, na ausência de um lateral de origem, os treinadores preferem improvisar um zagueiro na posição. Ivanovic no Chelsea. Marquinhos no Paris St. Germain e perderemos a conta. No Brasil, repito, é crime. Na terra dos laterais ofensivos, que deixam avenidas nas laterais, preferem improvisar um volante, até um meia ou atacante.

Falso Nove? Jogar sem centroavante de origem? Sem um primeiro volante? Crime. Comentaristas brasileiros estão acostumados com os dogmas das posições e não conseguem enxergar futuro se algo foge do seu senso comum.

Imagino anos atrás, quando Jurgen Klinsmann resolveu colocar Schweinsteiger de volante, ele que era ponta direita. Imagino um Roger Flores da Alemanha malhando o treinador pelo absurdo que estava fazendo, a invencionice.

Não que não haja invencionice. Mas é preciso olhar sem preconceito, para pensar se vai dar certo ou não.

Aliás, deixo Roger para o final, porque ele é um mistério. Jogador medíocre, eterna promessa, chinelinho, bateu um pênalti errado para derrubar um técnico. Virou comentarista e consegue ser ainda pior enquanto comentarista do que era jogador. Não há explicação para isso.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab

Fã de Esporte

A vida no começo de 2005 era um pouco estranha. Eu tinha saído do colégio e passado no vestibular para jornalismo. Mas, devido ao atraso de programação provocado pelas greves, as aulas iriam começar só no final de abril. Foram quatro meses de um pequeno vácuo existencial. Talvez fosse até bom tirar um período sabático após o fim do Ensino Médio, mas seria melhor se fosse algo programado, enfim. Nesse período, boa parte da minha vida se dedicava a acompanhar a programação da ESPN Brasil. Não que eu já não acompanhasse antes, o Linha de Passe da segunda-feira era um compromisso de agenda há algum tempo, assim como o Sportscenter no fim do dia, principalmente nos dias de rodada noturna na quarta-feira. Eram tempos que a internet ainda engatinhava e o Sportscenter era uma grande oportunidade de saber os resultados da rodada. Aquela ESPN de José Trajano moldou o caráter de uma geração de jornalistas e fãs de esporte, como eles passaram a chamar seus telespectadores. Sempre gerava ironias de