Pular para o conteúdo principal

Muricy Ramalho Antes e Depois de Yokohama

A carreira do treinador Muricy Ramalho pode ser dividida em antes e depois da humilhante derrota que o seu Santos sofreu para o Barcelona, em Yokohama, pela final do Mundial de Clubes em 2011. Aquele fracasso ficou impregnado em sua face.

Olhando em retrospectiva, a vitória do Barcelona parecia óbvia e de fato era. O Barcelona estava no auge do seu belo futebol, tinha Messi encantado, Xavi e Iniesta incapazes de errar um passe, Daniel Alves voando pela lateral direita, a zaga não corria maiores riscos e Fàbregas estava em um começo promissor no seu novo velho clube. A vitória do Barcelona era natural e era preciso fazer alguma coisa para que ela não se consumasse.

Mesmo tão óbvia, boa parte das pessoas não tinha essa percepção. O setor nacionalista da imprensa e da torcida brasileira foi tomada por aquele sentimento de "Vamos ver se o Barcelona é assim tão bom". Se eles tem Messi? Nós temos Neymar e eu sou muito mais o Neymar do que esse argentino enganador. Eles tem Xavi e Iniesta? Vamos ver se eles aguentam Ganso e Elano. Vamos ver se o Barça é tudo isso, como disse o lateral Léo após o título da Libertadores.

Muricy acabou aderindo esse clima também, quando na entrevista coletiva antes do jogo colocou a capacidade do treinador catalão Guardiola em xeque. Muricy disse algo no sentido de "ganhar no Barcelona é mole, é lindo. Quero ver ganhar aqui no Paulistão, sem dinheiro pra contratação, jogando quarta-domingo-quarta-domingo". Ganhar do Manchester United não é nada, duro é encarar o Botafogo lá em Ribeirão Preto. Só vamos ver se o Guardiola é bom se ele ganhar o Brasileirão.

Muito se falou na época que o Santos entrou em campo respeitando demais o Barcelona. Eu não faço essa avaliação. Acredito que o Santos entrou nesse clima de "vamos ver se eles são bons mesmos", apostaram num jogo franco e foram atropelados.

Voltamos ao Muricy.

Antes desse jogo, Muricy tinha uma carreira quase impecável. Trouxe o Náutico de volta aos títulos, foi campeão com o São Caetano, ganhou títulos com o Inter, ganhou quatro brasileiros, com o ineditismo das três conquistas em sequência pelo São Paulo. Ganhou a Libertadores com o Santos depois de quase 50 anos.

Além disso, Muricy Ramalho era a imagem do homem comprometido com seu trabalho. Podia ser grosso às vezes, mas era autêntico. Capaz de passar dias seguidos assistindo jogos de futebol do mundo inteiro, procurando ideias, soluções, corrigir seus erros. Assistia basquete e incorporava ideias do basquete ao seu time. Recusou a seleção para manter seu contrato com o Fluminense e foi campeão brasileiro. Comparado com Telê Santana, seu mestre, pelo perfeccionismo. Comparado com Rubens Minelli pelo estilo pragmático e vencedor. Praticamente o exemplo do Brasil que dá certo, com seu bordão "Aqui é trabalho". Filósofo do futebol.

Mas como ele mesmo disse, a bola pune.

O passeio catalão no Japão trouxe dúvidas sobre a capacidade de Muricy. Muitos times espanhóis, desses que nós consideramos café com leite como Almeria, Osasuna, Mallorca, Racing Santander, muitos já haviam feitos jogos mais difíceis com o Barcelona. Times que nós imaginamos que se jogassem no Brasil seriam goleados impiedosamente. Que só o Neymar marcaria 5 gols neles na Vila Belmiro. Pois esses times pensaram em como parar o Barça. Que estratégias poderiam usar. Por mais que quase nunca dê certo.

O Santos não. O santos pensou em ver se eles eram tudo isso. Pagaram para ver e se deram mal.

Isso respingou em Muricy. Sua imagem de analista de futebol ficou para trás. Como ele não conhecia o Barcelona? Como ele não tentou nada? Muricy pareceu ter caído na vala da autossuficiência, da marra futebolística característica dos brasileiros. Muricy pareceu o novo Zagallo, aquele que em 1974 disse que a Holanda é que tinha que se preocupar com o Brasil e o Brasil mal viu a bola contra os holandeses.

Desde então, Muricy parece não ter dado jeito novamente no Santos. Seu time virou algo parecido com uma equipe que joga futebol. Um esquema baseado em dar a bola para o Neymar e esperar que ele ganhe o jogo. Uma bola parada aqui, outra ali, e bola pro Neymar.

Muricy parece perdido e sem ideias. Impregnado pelo fracasso, sem saída. Suas entrevistas perderam aquele ar autêntico e ganharam um ar de reclamação constante. Muricy parece que não assiste mais futebol, não fala nada de interessante. Só lhe resta ficar afirmando como ele é bom e como ele entende de futebol, ao contrário dos jornalistas.

Não tenho dúvida que Muricy e as percepções sobre seus "eus" não é mais a mesma desde o Massacre de Yokohama.

Comentários

Postagens mais visitadas

Fuso Horário

Ela me perguntou sobre o fuso horário, se era diferente do local onde estávamos. Sim, informei que Mato Grosso está uma hora atrasado em relação ao Ceará. Perguntou se sentíamos alguma diferença, tive que falar que não. A pergunta sobre o fuso horário foi o suficiente para uma pequeno comentário sobre como lá no Ceará o sol se põe cedo e nasce cedo. Isso é exatamente ao contrário do Paraná, de onde ela veio, onde o sol se põe muito tarde. Ela demorou para se acostumar com isso. Não é nem seis da tarde e o sol se pôs. Não é nem seis da manhã e o sol já está gritando no topo do céu. Pensei por um instante que esse era um assunto de interesse dela. Que ela estava ali guiando turistas até um restaurante não facilmente acessível em Canoa Quebrada, mas o que ela gosta mesmo é do céu. Do movimento dos corpos, da translação e etc. Talvez ela pudesse pesquisar sobre o assunto, se tivesse o incentivo, ou se tivesse a oportunidade. Não sei. Talvez ela seja feliz na sua função atual. Talvez tenha ...

Os 50 maiores artilheiros do São Paulo no Século

(Até o dia 4 de fevereiro de 2024) 1) Luís Fabiano 212 gols 2) Rogério Ceni 112 gols 3) Luciano 87 gols 4) Jonathan Calleri 76 gols 5) França 69 gols 6) Dagoberto 61 gols 7) Borges 54 gols 8) Hernanes 53 gols 8) Lucas Moura 53 gols 10) Kaká 51 gols 11) Alexandre Pato 49 gols 12) Washington 45 gols 13) Reinaldo (Atacante 2001-2002) 41 gols 13) Grafite 41 gols 15) Danilo 39 gols 15) Diego Tardelli 39 gols 17) Souza 35 gols 18) Pablo 32 gols 18) Reinaldo (o lateral esquerdo) 32 gols 20) Hugo 30 gols 21) Brenner 27 gols 22) Gustavo Nery 26 gols 23) Alan Kardec 25 gols 24) Paulo Henrique Ganso 24 gols 25) Aloísio Chulapa 23 gols 26) Júlio Baptista 22 gols 26) Jorge Wagner 22 gols 26) Michel Bastos 22 gols 26) Aloísio Boi Bandido 21 gols 30) Cicinho 21 gols 30) Jadson 21 gols 30) Osvaldo 21 gols 33) Fábio Simplício 20 gols 33) Cícero 20 gols 33) Christian Cueva 20 gols 33) Robert Arboleda 20 gols 37) Thiago Ribeiro 19 gols 38) Amoroso 18 gols 39) Adriano Imperador 17 gols 39) Fernandinho 17 ...

Outras reações frustradas na Fórmula 1

No último domingo, certamente Lando Norris fez uma leve refeição antes de participar do Grande Prêmio do Brasil sonhando com uma virada que aumentaria suas chances de ser campeão do mundo. Poucas horas antes ele havia feito a pole position para a corrida, enquanto seu rival Max Verstappen largaria apenas na 17ª colocação.  Poderia sonhar com um vitória e com a possibilidade de seu rival chegar ali em uma distante quinta colocação. A distância de 44 pontos poderia cair para 29 e, aí, por mais que continuasse difícil ser campeão, não daria para negar que era uma chance. No entanto o que se viu no domingo foi completamente diferente. Contando com uma atuação primorosa e um pouco de sorte, Max Verstappen conseguiu a vitória em São Paulo. Lando, por outro lado viu tudo dar errado - largada ruim, fim do VSC na hora em que entrava no boxe, enfim, e chegou em oitavo. A reação virou um provável título de Verstappen na próxima corrida em Las Vegas - ainda acho mais provável o título na Sprin...